sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

↕ Tirésias

Ditou para si que o sentir do último suspiro – aquele instante da vida em que sapateiam diante das vistas cansadas, como que em uma regressão, os momentos mais importantes da vida do futuro cadáver em segundos – é exatamente o que sente agora. Então tem que selecionar tais momentos; susto. Não há espelhos, mas de olhos fechados contempla os traços que dizem serem seus; reflexo. Já fez isso em dias de chuva: Deitou na frescura da grama molhada e ficou ali, esperando um raio. Nada veio. Agora, deitada na terra, atirada no chão, o susto perdura. Se dá conta do quanto é pequena; pó. “Tudo não passa de uma viciosa e tortuosa repetição”, balbucia. No peito um coração teima em pulsar e na boca há um gosto de vida. Ela ainda está viva e seus olhos limpos de emoção vêem tudo azul; eu sinto, eu vejo, Narciso!

2 comentários:

Vani disse...

“Tudo não passa de uma viciosa e tortuosa repetição”... me soou bem psicanalítico (segundo a minha obsessão), hehehehe...

Igor Lessa disse...

Nossa! O que que é isso, em?!
Que força, Jozi... O estilo também.

Gostei muito.
Vou lá ler os outros.

Um beijo!




Olhando Pra Grama - Crônicas de um ansioso