terça-feira, 22 de janeiro de 2008

↕ Você

Quase meia-noite, e Ela sente um frio nas pernas somente pelo fato de saber que este dia está, mais uma vez, chegando. Só Deus sabe como ela odeia esse dia. Tantas foram as vezes que teve que dormir aos soluços, engolindo o choro para se fazer de forte. Ela está lá, embaixo do relógio da igreja da praça, contando os minutos restantes, sentada no chão, ao lado de uma árvore. Ela olha ao redor, e se irrita com a inquietude das pessoas que passam sem cessar. Porém quando resolve olhar bem diante de si, vê você. Ela se pergunta o porquê daquela perda que lhe deixou um buraco imenso no peito. Mas hoje ela faz uma pergunta nova: Porque merece você?
Porque ela te merece, você sabe? Na sua frente está uma menina da mesma idade que a sua, com os mesmos medos e sonhos. Vocês cresceram próximas, mas não juntas. Se encontraram no apogeu da puberdade, e estão virando mulheres, juntas. A menina que brincou de bruxa e fada com ela na terceira série, está ali, diante dela, passando frio, e enxugando as suas lágrimas. Há tantas horas vocês estão ali, sentadas no chão, dividindo uma com a outra medos e anseios. De todos os Natais que já teve que enfrentar, aquele certamente foi o menos doloroso. Pois embora tenha perdido muito, muito foi o que ela ganhou na vida. Ganhou anjos terrestres. Ganhou alguém como você. Uma grande amiga.




domingo, 13 de janeiro de 2008

Não Sei ao Certo Dizer


Não sei ao certo dizer. É o que está escrito incontáveis vezes, no papel que minutos atrás estava em branco. Ela faz perguntas em pensamento, e as respostas saem rabiscadas com aquela sua letra torta: Não sei ao certo dizer. E ela não se cansa, e continua: Quem é você que mora dentro do espelho? Por que me olha desse jeito? Não sei ao certo dizer. O que nos faz vivos? O que nos mantêm aqui? Não sei ao certo dizer. E então se pega de mãos dadas com a esquisitice que sente enquanto respira. Que dorme e acorda do seu lado. Ela teria que parar de respirar para essa esquisitice ir embora? Não sei ao certo dizer. Em meio a tanta sandice, sente aquela incontrolável “leveza do ser”, que passa e volta. Coisa chata, repetitiva, feito sessão da tarde – ela odeia rever o mesmo filme. Mas é uma sensação boa, que a faz sentir-se viva. Como é bom estar viva! E continua a se perguntar quem é a estranha que lhe persegue nos espelhos. A resposta é a mesma. Não sei ao certo dizer. Afinal, o que a faz viver, e o que a mantém aqui? Não sei ao certo dizer. Sabe apenas que para continuar viva precisa achar tais respostas, pois se na vida vence o mais apto – Darwin o sabichão da grow – então é bom encontrá-las, e rápido. Afinal, somos “canibais de nós mesmos” – o poeta vive, pelo menos pra ela! Porque que a gente é assim? Não sei ao certo dizer. Agora lembra de uma frase que leu certa vez em um livro, que dizia o seguinte: “Pior do que cometer um assassinato é roubar o direito de alguém nascer.” Sábias palavras de quem mesmo? Não sei ao certo dizer. O que nos faz vivos? O que nos mantêm aqui? Quando essa esquisitice largará a minha mão? Quanto tempo ainda tenho na teoria darwiana? O que nos faz canibais? O que nos faz roubar direitos alheios? Porque eu não me canso desses garranchos? Quem é a pessoa que vejo quando me olho no espelho? Não sei ao certo dizer.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

↕ Encontre e Enxergue

O que há em você? Esqueça o reflexo do espelho e tente se olhar de um jeito novo. Olhe aonde os olhos alheios não alcançam, e nem podem cuspir suas sentenças - medíocres são os olhos alheios, então cuidado! Olhe dentro de si, encontre e enxergue. Pasme, mas a grande maioria das pessoas não enxerga, nem ao menos procura encontrar, o que tem guardado dentro de si. Escondemos dos outros, e de nós mesmos. Feito uma pérola que se esconde dentro de uma ostra no fundo do oceano, ou como uma borboleta em sua crisálida. A sutil diferença é que a pérola não sai espontaneamente da ostra, ela fica a espera que alguém o faça, e se liberta. Já a borboleta precisa se libertar para sobreviver, porem, o faz sozinha, se alguém abrir o casulo ela morre. Seja um pouco pérola, um pouco borboleta. Liberte-se como se fosse algo vital, e arranque, nem que seja a força, o que você tem guardado, por tanto tempo escondido, dentro de si. Mas o faça por você, não se deixe guiar pelos mesmos olhos alheios do inicio deste breve texto. Encontre, se encontre! E você verá o quão valioso é o que está dentro de você, esperando a hora exata para se libertar. Você precisa somente enxergar!

sábado, 5 de janeiro de 2008

↕ Saudade Existe

“Saudade existe pra quem sabe ter”, é assim que a música toca, literalmente. Hoje, no meio de uma conversa ouvi a seguinte frase: "um escritor é muito mais foda que um pintor, escultor, ou qualquer outro artista". Não, não me considero uma escritora, mas tenho certeza que um dia serei, e você que lê essas linhas sem nexo, lerá ou conhecerá alguém, que já terá lido um livro meu. É apenas mais um dos meus alcançáveis sonhos. Afinal, "sonhar não custa nada!” O mesmo sonho que te faz traçar um caminho a se seguir, pode ser o seu pior inimigo. O sonho traz a tona a saudade adormecida – sonho, que traz saudade adormecida? oloco meu! Sim, agora me refiro ao sonho de fato, aquele resultante do ato de dormir. Sonhar permite que você visite lugares incríveis, e reveja pessoas ausentes. Puta que o pariu, tantas foram às vezes que passei um dia inteiro mal, pelo fato de voltar a lembrar de coisas, não esquecidas, mas lembranças que estavam ali, quietinhas, e que agora voltaram para atormentar o sossego do dia sucessivo ao sonho em questão. Porém, confesso que por diversas vezes rezei antes de dormir para sonhar com alguém. Sentir o cheiro, ouvir a voz. Melhor, sentir aquele abraço! Sonhos permitem tais mentiras. Me pego sem saber se é melhor sonhar, e sentir fantasias medíocres, ou não sonhar, e viver com a sola dos pés em contato com o chão. Tudo isso é resultante da saudade. Acredito que uma vida sem saudade, é uma vida que não foi vivida. Perdas e ausências são necessárias, como algo vital para qualquer pessoa. Dores emocionais são o que faz você lembrar que está vivo, por isso elas existem e acorrem, com certa freqüência. Uma pessoa que não sabe ter saudade, nunca teve alguém que marcou a sua vida, e certamente nunca foi uma página marcada no livro da vida de um outro alguém. Existir apenas por existir, sem deixar lembranças nem saudade. Esse é o meu maior medo. E enquanto escrevo esse texto, vejo o rosto da pessoa que me disse a frase citada no inicio, aquela da importância de um escritor. Uma pessoa que eu conheci há bem pouco tempo e mora longe, e irá partir. Uma partida prevista, nada de surpresas desagradáveis. Não sei o que é pior, a separação consentida, ou aquela inesperada, no caso a morte – quantas dúvidas Jozieli! A questão é que seja da forma que for, deixará saudade. Em tão pouco tempo alguém pode sim, fazer você sentir saudade. Isso é maravilhoso! Isso faz você se sentir vivo. Provocar e sentir, saudade. De fato, saudade existe pra quem sabe ter. Mas acima de tudo, saudade existe pra quem sabe viver.