quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O gosto de setembro


Gosto de setembro porque ele traz brisa terna, mas este soa especial. Neste setembro, meu pai completaria 44 anos. Não vi seus primeiros fios de cabelo branco, pois ele morreu jovem, aos 27. Quando penso nele, no seu breve sopro de vida, sei que não posso perder a fé no agora, tampouco no amanhã. Se isso acontecer serei um amontoado de nada. E na incessante pergunta ao Tempo, sobre como vamos terminar essa estrada, entre devaneios e “por quês” a resposta não tem censura. Ela vem, certeira e ainda assim nula, tirando dos olhos o brilho do “talvez”. Mas não me atenho a ela; ainda estou aqui e a ideia do eterno retorno me permite tentar, arriscar incontáveis “talvez”. Pois bem, se as coisas realmente pertencem a um ciclo vicioso de repetições disfarçadas, também são eterna renovação: se posso tentar uma, duas, três vezes, devo buscar o acerto, um novo aprendizado. Recomeçar! Seguindo a rota do acerto, um dia lhe alcanço numa esquina qualquer. Mas não estarei livre dessa busca, pois a medida que pego um aprendizado com os dedos, seguro firme na palma da mão, quero outro e mais um. Eis, finalmente, a morada da beatitude dos dias, a manivela que impulsiona a vida. Enquanto o pássaro negro de Poe não vier me buscar, posso seguir a diante, semeando e colhendo o melhor. Pois sou, e não há quem discorde, como o pássaro sublime de Quintana, que não anula a passagem pela vida, pois tem pra si um pincel, um céu azul; mesmo em dias chuvosos. Há muito tempo uso essa significação para ilustrar a capacidade de cada um em enxergar o melhor, de pincelar qualquer paisagem; mesmo que esse Melhor esteja acuado, enfraquecido pela maledicência alheia. Basta aceitar que diante do maldizer, o mais forte vem sozinho: o riso. Tentar mantê-lo no rosto é acariciar a dor da perda. É preciso força e coragem, somadas a audácia do “talvez”, para trajar essa leveza anunciada.