sábado, 12 de novembro de 2016

Apresse a prece

Deus, não permita que eu esqueça de onde vim, quem eu sou e porque estou aqui. Não permita que eu esqueça dos dias difíceis, do choro abafado ou da mobília que estragou com a chuva. Nem das vezes em que eu persegui meus sonhos enquanto o mundo dormia. Ou das manhãs em que vi a aurora, não por contemplação, mas por sobrevivência. Tampouco das vezes que me vi perdida dentro do abismo criado por mim. Ou das vezes que temi diante do novo. Nunca, jamais, me deixe desistir por medo! Não permita que o conformismo me acomode ou deixe de me incomodar. Não deixe que eu adie o abraço apertado ou o "eu te amo" mais sincero. O mais importante: por favor, não tire de mim o olhar que mira o céu, o rosto que sente o vento, o peito que pesa por se emocionar diante da vida. Que eu nunca deixe de sentir compaixão. E se eu despertar pela manhã sem agradecer por mais um dia, me mande um alerta! Que o reflexo no espelho me lembre que eu sou inteiramente grão. E quando eu for brisa feita de pó, que os rastros no tempo digam que eu não esqueci de onde vim, de quem eu sou e do motivo que me fez estar aqui algum dia. E mesmo sem ser mais coisa alguma, que a minha consciência seja capaz de agradecer.