terça-feira, 28 de maio de 2013

O caso da troca de versos (sem métrica)







Quem acompanha meu blog deve ter visto que em março publiquei uma crônica destinada ao escritor Getúlio Rui Palma. O texto estava escrito desde dezembro, protelei a publicação porque queria entregá-lo pessoalmente ao destinatário. Mas o ano começou do avesso e eu fiquei meses sem vê-lo. Até que publiquei a crônica que, eis a façanha da Internet, foi lida pelos filhos do seu Getúlio. Depois disso, o texto viajou, repercutiu, pessoas que eu não conhecia vieram até mim para falar sobre a crônica. Dia desses, o próprio Getúlio me ligou, avisando que me visitaria para entregar uma espécie de réplica. E a visita aconteceu, semana passada. Numa folha cuidadosamente dobrada, veio o que ele descreveu como “blogue artesanal”. Redigi o texto, respeitando cada vírgula – ele mesmo pediu para que o publicasse na Internet. Eis o carinho desse meu amigo, que tanto admiro e quero bem:


  “Para Jozieli Wolff
  
        O panorama do mundo atual, com a explosão populacional, assusta realmente: as sociedades são cardumes de piranhas que se entredevoram; impera o canibalismo.
          Hoje é perigoso viver.

Ela recém ultrapassou duas décadas de existência. É lugar comum dizer-se “tem toda uma vida pela frente”... mas, nesse caso, a certidão do cartório não acompanha a idade do crescimento mental.
          
Muito simples em seu estilo de vida, não tem atração por conglomerados humanos; porém, não foge da multidão por força de sua profissão: é jornalista. 

Trata-se da comunicadora Jozieli Wolff, atualmente em cargo de assessora de imprensa. Tem o talento da análise literária; senso crítico e analítico. E não lhe falta criatividade. Assim, será normal sua escalada e, de mera assessora, passará a ser assessorada. Eis a previsão. 

 Getulio Rui Palma – escritor.
Maio de 2013”.  

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Envelhecer



Envelhecer. Chegar nessa etapa da vida sem muitas limitações físicas e com a mente ainda agarrada nas lembranças. Esse retrato com cores fortes, alegres, de céu azulado, também pode vir com a plenitude encontrada no interior de uma casinha no meio do nada, sem telefone, sem TV ou som de ambulância. Posso sentir o frescor da aurora nesse lugar. A grama molhada pelo orvalho gelado e acolhedor. O pássaro bicando a terra ainda úmida pela geada fina da noite anterior. Como eu seria feliz se pudesse me despedir do horizonte num lugar assim. Então saberia, prestes a dar o último passo, que tudo valeu a pena, que o medo saiu derrotado e que o amor me fez triunfar pelos anos. Só o amor sabe conduzir despedidas com sabedoria, mesmo que elas sejam inconvenientes pela dor do adeus não dito. Talvez eu estarei sozinha, parada diante da porta, mirando o pássaro de bico gelado. Nesse instante, ela pode vir de subido, me levar tão rápido que deixarei o livro cair no chão. Ou, ainda, pode ser que ela me surpreenda durante o sono. Mas, quem sabe, você e eu ainda estejamos juntos, os dois grisalhos, com as hastes dos óculos contornando as rugas. Poderemos estar na varanda, conversando em pleno silêncio. Então ela virá, cautelosa, sem desfazer o nó das nossas mãos unidas. O outro lado ainda é reticências. Aqui, no hoje, enquanto a morte ainda é devaneio certo, o principal desejo que carrego comigo não está na ambição material. Terei sorte e alegria se alcançar a dádiva de envelhecer.