quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Paranoia

Isso não vai passar, vai ser sempre assim. Sofro de lucidez crônica, por isso navego numa busca constante. Busco pra continuar viva. "Sete horas da manhã, levanta e vai buscar a conquista do dia", é o mantra que recito calada todas as manhãs, exceto aos domingos e nos feriados - domingos e feriados foram feitos para o ócio, e o ócio não merece maquiagem, tampouco buscas incessantes. Buscar o quê? E depois que eu alcançar o que tanto busco? Continuo buscando. Dia desses leram minha mão e, numa quiromancia menos leiga que a minha, disseram num sotaque nordestino, sem nenhuma sutileza: “isso não vai passar, vai ser sempre assim”. Então me aquietei. É, em vez de entrar em desespero, fiquei tranquila. Verdades as vezes vêm com tapas na cara, mas depois trazem um calorzinho digno de dias mornos, mesmo que no céu não haja sol. O sofrimento é opcional. Houve um tempo que essa minha lucidez tinha um caráter paranoico. Essa paranoia brotava sem cerimônia pelos meus poros - principalmente em periodos de mudanças hormonais dignos de todo mês. A paranoia foi embora e deixou a consciência critica. Desde então, não durmo. É uma consciência critica que não me deixa dormir. Explico: Eu, aquela do nome ruim, sofro de lucidez crônica, logo, sofro de insônia. Por favor, não confundam minha lucidez com paranoia.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Por que brasileiro faz folk mas não faz pop?

Sou apaixonada por MPB. Aqui no Brasil tivemos bons intérpretes e bons compositores, principalmente em meados dos anos 60, como pôde ser visto a partir dos Festivais de Música Popular Brasileira. Mas nada como um bom compositor que também é um bom musico; o conjunto da obra. Foi justamente por isso que em 1967, o terceiro festival passou a permitir que os próprios compositores interpretassem as suas músicas – antes disso, os interpretes não podiam cantar composições próprias. Mas esse “conjunto” tão cobiçado de profissional do ramo da música – esse que toca, compõe e canta – surgiu no Brasil antes dos festivais, pois eles começaram a despontar lá em meados dos anos 50, com a efervescência da Bossa Nova. Mas não vamos entrar numa discussão mais apurada sobre – outro dia sim, hoje não.


Hoje no Brasil tem gente interpretando e compondo MPB ainda (belissimamente, diga-se de passagem), enquanto o samba aparece com pouca representatividade e clama os tempos do Cartola. E tem até gente tentando fazer folk. Rock e afins tem às pencas. Em contra partida, aqui não existem artistas pops ( tem os que acreditam ser, revelados em programas de televisão, e que aprendem a produzir torturas auditivas, mas esses não contam). Tirando raras exceções (como, por exemplo, o Lulu Santos, que se não fosse brasileiro talvez tivesse sido celebridade mundial do gênero), por que é que brasileiro não sabe fazer música REALMENTE pop? Não sei.


Ai ouço Paulinho Moska, e fico na duvida se ele é pop ou MPB. Meu inconsciente diz: ele é foda, então pode ser as duas coisas. E ele é isso: o casamento do pop com a MPB. Lindo.

Acho que pra quem nunca o ouviu antes (e não pensem que ele é guri, pois já tem lá seus 40 anos), deve começar pelo álbum + Novo de Novo (2007). Baixe a parte I aqui ó, e a parte II aqui ó. Depois corra atrás da discografia dele, porque vale a pena.


Repetindo: mas esse “conjunto” tão cobiçado de profissional do ramo da música – esse que toca, compõe e canta – é de certo modo “raro”. Principalmente depois dos mestres da década de 50 e 60. Dessa “nova geração”, iniciada ali na metade da década de 80, até meados da 90, só me encantei realmente (numa seleção masculina) por Renato Russo, Zeca Baleiro e Paulinho Moska. Agora a trupe ganha mais um integrante, Fernando Anitelli e seu rosto de palhaço.


Opa, tem assunto ai pra um mês inteiro, me calei.

sábado, 15 de agosto de 2009

O Woodstock agora é quarentão

Durmo e acordo com alguns nomes que se apresentaram naquele agosto de 1969. Seus rostos estão grudados nas paredes do meu quarto, e o tempo todo olham para mim. Janis, neste momento, está gargalhando. Ela nunca deixa de sorrir.

Fiquei me programando para escrever algo bacana hoje, mas vou falhar. Todos aqui sabem o que foi o Woodstock, que foi o maior festival de roque já feito blábláblá, o manifesto de uma geração que precisava fazer barulho, chutar o balde e deixar a sociedade conservadora da época boquiaberta. E que para isso reuniu, entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969, centenas e centenas de pessoas em uma fazendola. Lá, essas pessoas fumaram maconha e assistiram aqueles que eram, ou viriam a ser, ícones do rock' n roll. É, Creedence, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Joan Baez, Joe Cocker, John Sebastian, Santana, The Band e The Who, foram alguns dos que subiram ao palco. É fato que outros bons também recusaram o convite de se apresentar (Led Zeppelin, Frank Zappa, The Beatles, Joni Mitchel, The Doors, e...), mas não vamos nos delongar aqui.


“Por que outros festivais não alcançaram a grandiosidade do Woodstock em relação a sua importância no cenário mundial?” Hahaha meu filho, você já deveria saber que a história funciona assim: esteja na época certa e aconteça! Mil novecentos e sessenta e nove: o contexto cultural era o mais oportuno (e a intenção era boa). Então o resultado não poderia ser diferente. Me diga uma coisa, com franqueza: seus amiguinhos, é, esses que hoje beiram os 17, 20 anos, que mal conseguem manter uma barba bonita, teriam coragem de saírem na rua para protestarem contra algo? “Que algo?”. Ué, por qualquer coisa que não esteja nos trâmites. Vai dizer que não tem nada errado? Vamos lá, pense um bocado. Tá, vou te dar o clichezão do Brasil: Corrupção. Você e seus amigos já cogitaram a hipótese de organizar algo a fim de protestar contra a corrupção no nosso senado? Não? Ah, por que não? Por que só quem protesta aqui é sem terra? Por que a ditadura de 68 te deixou traumatizado foi? Hum, tadinho. A resposta: somos frutos da geração coca-cola, acuados e omissos.


Voltando a uma frase que citei dois parágrafos a cima: “Todos aqui sabem o que foi o Woodstock...”. Sabem MESMO? A impressão que eu tenho é que tudo é sempre deturpado. Fico pensando se todos aqueles que subiram naquele palco tinham realmente noção do que estava acontecendo ali. E aquelas pessoas que lá estavam? Ou tudo foi somente “mulheres nuas pra cima e pra baixo e gente chapada cantando”? Ou aquela era “a grande chance” de fazer sucesso, e mais nada? (claro). Realmente, não faço apologia a nada, tampouco condeno caso tenha sido assim. O problema é o culto que insistem em fazer em volta de tudo isso. Eu mesma já fiz e já levei puxões de orelha por isso. Acordei.


Eu diria que o Woodstock foi o ápice do que veio sendo feito desde 1967, não tem como negar. A morte do Che Guevara em 67, os movimentos estudantis em 68, a guerra do Vietnã que na época gerava cada vez mais vítimas, e, por fim, o Woodstock – que nada mais é do que uma cria da efervescência de 1968, o grito de misericórdia. De fato, o festival foi um hino, cantado, escarrado por centenas de pessoas. Mas eu me pergunto: o que realmente diziam esses gritos? “Mas ah, foi a ruptura, a conquista feminina”. A ruptura, a conquista, ou a vulgarização da imagem da mulher? Vocês queriam ganhar direitos ou fama de vadias?


Tantos autores afirmam que os manifestos de 1968, e o que aconteceu posteriormente a ele, não resultaram em nada de extraordinário, que as mudanças seriam inevitáveis, que aconteceriam de toda forma – que paz e que amor?. E mais, que as pessoas nem sabiam pelo o que estavam lutando. Dois filmes que retratam o que estou tentado falar são: The Dreamers, datado de 2003 e dirigido por Bernardo Bertolucci; e Across The Universe, musical de 2008, baseado na obra dos Beatles. Nas cenas finais de The Dreamers, jovens vão para a rua protestar sem nem fazerem ideia do que estava acontecendo. No filme Across The Universe, os personagens veem suas ideologias sendo deturpadas e, no final da trama, voltam para suas cidades, sem terem alterado nada. E essa era a realidade. Saiam as ruas, berravam, vandalizavam, a maioria sem causa alguma. Quase tudo o que se prega é fantasia. Quanto a explosão cultural, tenho a impressão que 1968 está aqui, é o hoje, que de fato aquele foi “o ano que não terminou”. É só estudar, ler as coisas certas, ter bom gosto.

Ah.


Mas quem se importa com isso? O que importa se eu vou ouvir várias vezes a mesma música durante a minha vida, e em nenhuma saberei o que de fato ela representa? Né? Né.



Agora chega a parte em que eu tenho que escolher alguém que se apresentou lá e postar um videozinho do ser aqui, né? Né. E quem eu poderia escolher? “Ah, a Janis!”. Não. Meu vislumbre por ela se foi. Gosto é da Joan Baez, pelo papel que ela teve e cultiva até hoje – Dylan dá suspirinhos agora. “Joan Baez, hã, quem?”. Será que por ela não ter se acabado antes dos 30, ela não é tão famosa e venerada como tantos outros? Hum. Prepare-se para assistir algo mais ameno, vamos dizer assim:





Boa noite, e feliz 40 anos, tio Woodstock.




quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Saudade

Hoje recebi a receita da dor dos meus pés cansados.

Dos rastros dos meus passos largos, móbiles

no céu azulado de um agosto cinza.


Que vão em par, seguindo em

soslaio com aquela que

não ganha rima.


Saudade.


Que me persegue desde menina.


domingo, 9 de agosto de 2009

Augustos

Augusto sabe que vai morrer em instantes.


O uísque desce pela garganta sem gosto. Suas mãos já não seguram mais o copo com firmeza. Verdade seja dita, Augusto vagou por uma vida inteira e nunca segurou nada com firmeza.


Apertou os lábios flácidos, fechou os olhos. A janela abriu de repente, depois de um longo tempo de escuridão. Os raios do sol invadiram seu corpo tão intensamente, rasgando sua carne, fazendo-a arder em brasa. Por isso suas pálpebras tombaram, enquanto gotejavam maciamente. Lágrimas.


Seus olhos ainda estão selados na tentativa, inútil, de evitar que as lembranças sejam vistas. Mas elas insistem em se despedir. Não que julgue sua vida um martírio, mas Augusto prefere o silêncio das tardes vazias e a ausência de lembranças vagas.


Nos últimos anos, cada vez mais Augusto precisava de menos para viver. Pensava pouco, comia pouco, dormia pouco. Se fosse mais moço, diriam que ele estava apaixonado. Mas não, Augusto não morria por amor; morreria sem a presença dele.


Ela entra no cômodo, não é feia, garanto. Augusto não a vê, mas sente seu perfume adocicado. Ele teme abrir os olhos. Sentada do seu lado, ela apenas espera.


Minutos depois, o copo rolou alguns metros pelo carpê desbotado. Lá fora, um pássaro pousa no galho de uma árvore sem folhas, pesada e envelhecida – como o antigo corpo de Augusto – saudando a aurora de um novo amanhecer de inverno.


Augusto sozinho em si mesmo, enfim, caminhava.

sábado, 8 de agosto de 2009

Roberta Sá: a morena que gira a renda



"É no samba de roda, eu vou

No babado da saia eu vejo

A morena girando a renda

É prenda pro seu orixá."

Girando a renda – Que belo estranho dia para se ter alegria (2007)



A primeira vez que ouvi Roberta Sá foi na música “Dê um rolê”, do disco “Fatal”, da Gal Costa. “Não se assuste pessoa, se eu lhe disser que a vida boa”. Fiquei anestesiada, encantada. Teve uma época que era regra para mim ouvir essa música todos os dias (preste atenção na letra dessa música quando puder). A gravação era ao vivo, e não faz parte de nenhum dos seus álbuns. “Eu sou, eu sou, eu sou o amor da cabeça aos pés!”. O que me chamou atenção, num primeiro momento, foi a força da sua voz. Me lembrei de Elis.


Tratei de descobrir quem ela era. É fato que quem nasce em 19 de dezembro esbanja talento (hahahahaha). Em suma ela é assim: uma mescla de samba, pagode e MPB. A cantora nascida em Natal e criada no Rio de Janeiro, no seu primeiro álbum propriamente dito “Brasileiro”, datado de 2005, contou com participações de feras como Ney Matogrosso, Chico Buarque, Marcelo Camelo, entre outros. No ano anterior, Roberta havia gravado um álbum promocional, chamado “Sambas e Bossas”, composto por clássicos da MPB. Ai em 2007, Roberta lançou a sua obra-prima: “Que belo estranho dia para se ter alegria”. Aliás, enfio garganta abaixo esse álbum sempre que posso, quando alguém recorre a mim pedindo alguma música: “pus no seu pendrive uma tal de Roberta Sá, conhece?”. Mas não poderia ser diferente, assim como em Brasileiro, Roberta em Que belo estranho dia para se ter alegria traz lindas composições, inéditas e regravações, de compositores brasileiros da atualidade – parece mentira, mas ainda temos compositores de música popular por aqui, e bons compositores.


Se Tiê é mais “modesta”, diria assim no quesito instrumental, Roberta usa e abusa, encrementando as composições com um bocado de ousadia. Mas não vamos aqui avaliar um folk-brasileiro (??) com MPB e afins. Foi só um parecer, parei.


Ouço Roberta Sá e acredito que é possível sim que novas gerações produzam música de qualidade no Brasil, como as de outrora. Qualidade não só instrumental, mas no conteúdo das composições. Sem ficar pintando o cabelo de loiro e rebolando ao som de um inglês mal pronunciado e músicas sem nexo, sem melodia. De uma coisa tenho certeza, se Policarpo Quaresma vivesse hoje, ouviria Roberta Sá no seu mp4.




Baixe
Que belo estranho dia para se ter alegria aqui ó.

Roberta Sá interpretando “Novo Amor”.

Quando letra e melodia casam, o resultado só pode ser esse. Essa música faz parte do repertório de Que belo estranho dia para se ter alegria, e é uma das que eu mais gosto do disco. Usei sua introdução para um documentário radiofônico. “Só você pra gostar de música de cangaceiro”, me disseram. Hahaha.


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Atchim!

E a Paz mundial?
Mundial mesmo, só uma virose com nomenclatura oriunda de animais irracionais, que mata, sem cerimônia alguma, inumeros de exemplares do homem "pensante". Este, por sua vez, vai pra cova sem se dar conta que de nada valeu se gabar pelo seu encéfalo ALTAMENTE desenvolvido, e pelos seus úteis polegares.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Onze noites com Hercule Poirot

Minha sombra pelo quarto me fez grande, me vi como um pequeno gigante. Sentei no canto da cama, cruzei as pernas - esmaguei o medo diante delas. Então apreciei de camarote.


Seios nus, mãos entrelaçadas; indícios claros de que o “feito” já estava feito. Cheguei tarde. Mas mesmo com o atraso, encontrei o que me propus a encontrar.


Os dois estavam dormindo. Tolos! Minha revolta se dá devido ao xeque-mate consentido. Inadmissível. A questão é que quando inertes em nossos sonhos, nos envolvemos numa densa vulnerabilidade. Explico: Enquanto dormimos não conseguimos manter a máscara no seu devido lugar. Tampouco esconder a fragilidade contida no interior da carcaça. Fragilidade que quando as pálpebras selam e o sol se põe, sai saltitando âmago a fora, e aflora! Tinhosa, como aquela flor que só floresce no anoitecer, enquanto o repouso pousa nos peitos, nus, dos seus admiradores. Por isso, só os boêmios conseguem mirar sua beleza. E cambaleando encontram repouso no colo de alguém, até morrerem de amor – sem paz alguma.


Fico em pé e com passos curtos tomo postura. Dou as costas e sigo meu caminho com imensa gastura, pois dei as costas para a certeza do querer. “Quero provar esse falso gozo!”. Nem que isso me faça mais uma cega cambaleante, amante, dessas que cessam somente ao repousar no colo de alguém; para então, enfim, morrer de amor.


Mas ainda estou vivíssima e hoje não dormirei sozinha. Hercule Poirot me espera, boa noite.


terça-feira, 4 de agosto de 2009

Pete Molinari: All Over Now Baby Blue?

Há pouco um amigo me mandou “It's All Over Now Baby Blue” na versão do Morrison - coisa que ele já fez ano passado, e agora repetiu, sabe-se lá o porquê. Basta ouví-la para na hora me lembrar do Dylan. Me dê mais uns segundos, então me lembrei de outro presente enviado pelo mesmo amigo : Pete Molinari. Ah, inevitável ouvir esse guri sem associá-lo no ato a Bob Dylan, e até delirar interrogações do tipo: “reencarnação?”.

Pete tem dois álbuns, o primeiro lançado em 2006, chamado "Walking of The Map", foi gravado numa cozinha, com um gravador de dois canais. O último, lançado ano passado, intitulado "A Virtual Landslide", teve estúdio, bandinha e afins. É daqueles álbuns leves, desses em que as músicas soam maciamente até a última faixa. Quando “Lest We Forget” termina, você nem se dá conta de que o álbum chegou ao fim, então dá play na primeira música e deixa “I Came Out Of The Wilderness” amansar o terreno para as próximas canções – de novo, de novo e de novo. Aliás, este álbum é recheado de músicas para mulher. É, tem música para uma tal de Adelaine, Louise, Angeline, e por ai vai. Esse inglesinho que canta folk para americano algum por defeito, mostra para Baby Blue que nem tudo acabou!


Quer ver/ouvir o Pete num vídeo amador, interpretando a chorosinha Sweet Louise? Clica aqui ó.