sábado, 15 de agosto de 2009

O Woodstock agora é quarentão

Durmo e acordo com alguns nomes que se apresentaram naquele agosto de 1969. Seus rostos estão grudados nas paredes do meu quarto, e o tempo todo olham para mim. Janis, neste momento, está gargalhando. Ela nunca deixa de sorrir.

Fiquei me programando para escrever algo bacana hoje, mas vou falhar. Todos aqui sabem o que foi o Woodstock, que foi o maior festival de roque já feito blábláblá, o manifesto de uma geração que precisava fazer barulho, chutar o balde e deixar a sociedade conservadora da época boquiaberta. E que para isso reuniu, entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969, centenas e centenas de pessoas em uma fazendola. Lá, essas pessoas fumaram maconha e assistiram aqueles que eram, ou viriam a ser, ícones do rock' n roll. É, Creedence, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Joan Baez, Joe Cocker, John Sebastian, Santana, The Band e The Who, foram alguns dos que subiram ao palco. É fato que outros bons também recusaram o convite de se apresentar (Led Zeppelin, Frank Zappa, The Beatles, Joni Mitchel, The Doors, e...), mas não vamos nos delongar aqui.


“Por que outros festivais não alcançaram a grandiosidade do Woodstock em relação a sua importância no cenário mundial?” Hahaha meu filho, você já deveria saber que a história funciona assim: esteja na época certa e aconteça! Mil novecentos e sessenta e nove: o contexto cultural era o mais oportuno (e a intenção era boa). Então o resultado não poderia ser diferente. Me diga uma coisa, com franqueza: seus amiguinhos, é, esses que hoje beiram os 17, 20 anos, que mal conseguem manter uma barba bonita, teriam coragem de saírem na rua para protestarem contra algo? “Que algo?”. Ué, por qualquer coisa que não esteja nos trâmites. Vai dizer que não tem nada errado? Vamos lá, pense um bocado. Tá, vou te dar o clichezão do Brasil: Corrupção. Você e seus amigos já cogitaram a hipótese de organizar algo a fim de protestar contra a corrupção no nosso senado? Não? Ah, por que não? Por que só quem protesta aqui é sem terra? Por que a ditadura de 68 te deixou traumatizado foi? Hum, tadinho. A resposta: somos frutos da geração coca-cola, acuados e omissos.


Voltando a uma frase que citei dois parágrafos a cima: “Todos aqui sabem o que foi o Woodstock...”. Sabem MESMO? A impressão que eu tenho é que tudo é sempre deturpado. Fico pensando se todos aqueles que subiram naquele palco tinham realmente noção do que estava acontecendo ali. E aquelas pessoas que lá estavam? Ou tudo foi somente “mulheres nuas pra cima e pra baixo e gente chapada cantando”? Ou aquela era “a grande chance” de fazer sucesso, e mais nada? (claro). Realmente, não faço apologia a nada, tampouco condeno caso tenha sido assim. O problema é o culto que insistem em fazer em volta de tudo isso. Eu mesma já fiz e já levei puxões de orelha por isso. Acordei.


Eu diria que o Woodstock foi o ápice do que veio sendo feito desde 1967, não tem como negar. A morte do Che Guevara em 67, os movimentos estudantis em 68, a guerra do Vietnã que na época gerava cada vez mais vítimas, e, por fim, o Woodstock – que nada mais é do que uma cria da efervescência de 1968, o grito de misericórdia. De fato, o festival foi um hino, cantado, escarrado por centenas de pessoas. Mas eu me pergunto: o que realmente diziam esses gritos? “Mas ah, foi a ruptura, a conquista feminina”. A ruptura, a conquista, ou a vulgarização da imagem da mulher? Vocês queriam ganhar direitos ou fama de vadias?


Tantos autores afirmam que os manifestos de 1968, e o que aconteceu posteriormente a ele, não resultaram em nada de extraordinário, que as mudanças seriam inevitáveis, que aconteceriam de toda forma – que paz e que amor?. E mais, que as pessoas nem sabiam pelo o que estavam lutando. Dois filmes que retratam o que estou tentado falar são: The Dreamers, datado de 2003 e dirigido por Bernardo Bertolucci; e Across The Universe, musical de 2008, baseado na obra dos Beatles. Nas cenas finais de The Dreamers, jovens vão para a rua protestar sem nem fazerem ideia do que estava acontecendo. No filme Across The Universe, os personagens veem suas ideologias sendo deturpadas e, no final da trama, voltam para suas cidades, sem terem alterado nada. E essa era a realidade. Saiam as ruas, berravam, vandalizavam, a maioria sem causa alguma. Quase tudo o que se prega é fantasia. Quanto a explosão cultural, tenho a impressão que 1968 está aqui, é o hoje, que de fato aquele foi “o ano que não terminou”. É só estudar, ler as coisas certas, ter bom gosto.

Ah.


Mas quem se importa com isso? O que importa se eu vou ouvir várias vezes a mesma música durante a minha vida, e em nenhuma saberei o que de fato ela representa? Né? Né.



Agora chega a parte em que eu tenho que escolher alguém que se apresentou lá e postar um videozinho do ser aqui, né? Né. E quem eu poderia escolher? “Ah, a Janis!”. Não. Meu vislumbre por ela se foi. Gosto é da Joan Baez, pelo papel que ela teve e cultiva até hoje – Dylan dá suspirinhos agora. “Joan Baez, hã, quem?”. Será que por ela não ter se acabado antes dos 30, ela não é tão famosa e venerada como tantos outros? Hum. Prepare-se para assistir algo mais ameno, vamos dizer assim:





Boa noite, e feliz 40 anos, tio Woodstock.




4 comentários:

Rodrigo Mello Campos disse...

infelizmente, nessa época eu era trabalhador rural no interior do Brasil. Naõ pude acompanhar os movimentos, nem os do sem terra.

Lembro do robertão carlos cantando na rádio.

até

ps: fiz um link do teu blog no ocudio.

Unknown disse...

Nossa eu adoro essa mulher! verdadeira poeta!

gostei do layout

bejos

Raphael Neves disse...

Salve o Woodstock! Também acho que foi a festança pra comemorar tudo de bom que vinha acontecendo no final dos 60. Bem legal seu blog!

Abração,
Rapha

P.S.: obrigado pelo link. ;)

Doidus disse...

Fala dona Jozieli! Só respondendo à tua pergunta sobre o motivo de ninguém protestar contra a corrupção, é simples: como uma pessoa que gosta de viver tranqüilamente, eu diria que se acabasse a corrupção, teríamos pessoas que brigariam contra suas próprias consciências o tempo todo! Por exemplo: se a gente elege um representante, é porque se espelha nele! Poderia alguém, num mundo totalmente sem corrupção, aceitar de si mesmo uma mentirinha casual pra justificar uma falta, ou mesmo, não "dar a César o que é de César" e piratear mesmo com os preços abusivos das coisas, como do próprio programa de leitura de telas que eu uso? Realmente melhor viver só fumando maconha e não se importar com o motivo das coisas porque se a gente pensa, não casa... E aqui eu falo em não casar idéias, não casar com a própria consciência... Mas enfim, delirei demais, e isso sem estar chapado!!!

Até mais,
"Objeto de testes da Vani - André Baldo, o Doidus!"