domingo, 13 de abril de 2008

↕ Venha ser o meu pôr-do-sol.

Teve uma época em que saía sem rumo, chutando as pedras que encontrava pela rua, com a mesma intensidade que gostaria de poder fazer com tudo o que lhe afligia e inquietava. Quando encontrava o tal rumo, até então ausente, ía para o mesmo lugar e lá ficava por horas.
E ele estava lá. Sentado meio que desajeitado, pois há tempos havia deixado de caber em balanços como quando seus pés ainda não tocavam o chão. Mas apesar de tudo, não perdeu essa tola mania.
Fazia aquilo sem sentido algum, justamente porque o sentido das coisas já havia se esvaído. Engraçado justo agora haver um motivo.
O frio sempre lhe acompanhou, mas ultimamente os últimos raios de sol lhe aquecem, pois enquanto se despedem, trazem consigo ela.
Estranho saber que existe alguém com essa mesma mania de ficar ali, somente no embalo sutil do vento, deixando o tempo passar enquanto o sol se põe.
Antes sem sentido, agora o faz somente para contemplá-la. Espera ansioso que ela venha, e quando isso não acontece é tomado por uma sensação de perda. Não que tenha algo a perder, mas a sente como nunca sentiu alguém.
Como ele lamenta não tê-la conhecido antes. Caso tivesse a encontrado em um parque qualquer há um tempo atrás, não hesitaria, diria o quanto ela é linda. E quem sabe até agradeceria ao Deus que desconhece, pela tal sorte. Talvez ela tivesse sido capaz de lhe mostrar o caminho que nunca conseguiu encontrar sozinho. Ela o faria encontrar o sentido.
Ela nunca conseguiu sentar naquele balanço azul. Não porque não goste da cor, mas sempre teve a impressão de que alguém se embala nele. Não sabe explicar o porquê, apenas sente.
Todas as vezes que precisa de um tempo só seu, ela vai para lá. Nunca teve algo ou alguém só seu, mas quando está lá tem a sensação de que possui algo, não sabe bem ao certo o que é, provavelmente seja o próprio tempo que tanto procura. Mas a sensação é boa, acalenta e acalma sua agitada alma.
Gosta daquele lugar. Lembra de quando era criança e no embalo forte de alguém que a guiava, fechava os olhos enquanto estava no ar, abria os braços e fingia que podia voar. Agora se contenta com o singelo ninar que não a transforma em nenhum pássaro, mas a faz refletir.
Enquanto o vento insiste em lhe fazer dançar, ela se pergunta se de fato não haja alguém naquele balanço, que a olha e gargalha. Se intitula louca, mas continua a indagação.
Sempre desejou poder tocar o vento que lhe toca e acaricia. E uma única vez poder embalá-lo como ele a faz. E lhe dar o sossego e a paz que ele lhe traz.
As vezes ela se pega rezando:

Hey Deus, como eu faço pra você me ouvir?
Quem é você que por mais que eu reze e te chame, não consigo te ver?
Posso não o ver, mas o sinto. Posso não vê-lo partindo, mas o sinto cada vez mais distante, toda vez que volto pra casa.

Quando a noite chega, ela vai embora.
E o balanço continua se embalando sozinho, sem cessar.
E ele ainda está lá naquela quietude, esperando que o próximo pôr-do-sol a traga, mais uma vez.

2 comentários:

Rapha disse...

demorei um pouco para ler o texto todo, mas gostei
brigada pela visita!
=**

simple_chi! disse...

gostei do texto!!
blog legal! ;D