terça-feira, 22 de janeiro de 2008

↕ Você

Quase meia-noite, e Ela sente um frio nas pernas somente pelo fato de saber que este dia está, mais uma vez, chegando. Só Deus sabe como ela odeia esse dia. Tantas foram as vezes que teve que dormir aos soluços, engolindo o choro para se fazer de forte. Ela está lá, embaixo do relógio da igreja da praça, contando os minutos restantes, sentada no chão, ao lado de uma árvore. Ela olha ao redor, e se irrita com a inquietude das pessoas que passam sem cessar. Porém quando resolve olhar bem diante de si, vê você. Ela se pergunta o porquê daquela perda que lhe deixou um buraco imenso no peito. Mas hoje ela faz uma pergunta nova: Porque merece você?
Porque ela te merece, você sabe? Na sua frente está uma menina da mesma idade que a sua, com os mesmos medos e sonhos. Vocês cresceram próximas, mas não juntas. Se encontraram no apogeu da puberdade, e estão virando mulheres, juntas. A menina que brincou de bruxa e fada com ela na terceira série, está ali, diante dela, passando frio, e enxugando as suas lágrimas. Há tantas horas vocês estão ali, sentadas no chão, dividindo uma com a outra medos e anseios. De todos os Natais que já teve que enfrentar, aquele certamente foi o menos doloroso. Pois embora tenha perdido muito, muito foi o que ela ganhou na vida. Ganhou anjos terrestres. Ganhou alguém como você. Uma grande amiga.




Um comentário:

Unknown disse...

O interessante das coisas que escreves, é que tu consegue passar exatamente o que tu sente. É difícil fazer isso, pq as pessoas tem medo de parecerem ridículas.
Ótimos textos.
Parabéns!
bjs