Ajoelhada sobre a terra ainda fofa, ela tira do bolso uma folha amassada e com as mãos tremulas, pela quietude exagerada do lugar, conduz o pedaço de papel em direção à lápide de mármore, que traz estampada a mesma foto que por tanto tempo ela guarda em segredo no fundo de uma gaveta. E então ela começa a ler, com dificuldade, pois as lágrimas que insistem em lhe cortar a face caem sobre o papel e borram a letra quase que indecifrável, de alguém que encontrou nas palavras sussurradas por um lápis, a forma de se libertar de um sentimento, por tanto tempo guardado em um coração infanti, e que agora se liberta desta prisão. Mas está condenado a passar toda a eternidade nas linhas desse papel amassado, porque a pessoa a quem este sentimento foi destinado, jamais saberá o quanto foi amado, pois conquistou um coração covarde, que nunca teve coragem de olhar em seus olhos e lhe dizer em vida, o quanto o amava. E agora que seus olhos estão selados para sempre, ela toma coragem e resolve ler uma carta que escreveu há tanto tempo e sempre adiou para o dia seguinte o momento em que ela a entregaria a ele. Até que de tanto esperar, um dia ele morre, e não haverá dia seguinte, pois agora ele está no fundo de uma cova fria em um cemitério sem vida, onde a única forma de movimento é um pedaço de papel, deixado por uma moça que de tanto esperar viu seu coração sendo enterrado mesmo não estando morta. E o papel, conduzido pelo vento de uma tarde triste de outono, dança entre os túmulos, feliz, pois traz junto de si a chave das algemas que por tanto tempo acorrentaram um coração, que aos poucos está deixando de bater e que vive somente a espera do momento em que se juntará ao seu amor e finalmente dirá o quanto o ama, e dessa vez não precisará de nenhum pedaço de papel.
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