Certa vez escrevi sobre um homem que andava por aí com os pés descalços, e que debochava das solas alheias, enclausuradas em veludo barato. Segundo ele, a estrada leva todos para o mesmo fim, sem distinguir o traje dos pés.
Hoje vou escrever sobre aquele velho ali, com as mãos nos bolsos e que não sabe ler. Não lê os sorrisos alheios para não ter que os retribuir. Foge dos rostos, dos cumprimentos; vive desatento perdendo pessoas por não atravessar a rua. Não foi treinado, por isso não sabe imitar o sorriso amarelo na sua frente, muito menos gesticular os lábios murchos e soltar, entre os poucos dentes que ainda possui, o som da hipocrisia.
É esse vício que anda do teu lado, lhe aperta forte o ombro e o faz parar; te afaga, te beija, te desarma e o principal, te salva.
Amanhã escreverei sobre o homem que não sabe ouvir. Outro sortudo! Mas adianto que sobre cegos e surdos, eu prefiro os descalços.
6 comentários:
que bobeira isso do café, coca, whisky, parece ter 17 anos feitos ontem.
ah Gian, feche a matraca.
E que agora também venham as garis e os seus sonhos.
Beijo.
Eu simpatizo tanto com os descalços, deve haver um exército deles.
Mas diga-me, minha querida, como esse homem que não lê sobrevive sem a hipocrisia? É um santo.
obs: Eu não gostei muito daquele poema não.
obs': Escuta os Madredeus?
Madredeus me lembra ovelhas, rebanhos e pastores, não sei pq... sou uma eterna associacionista, rs... já a hipocrisia, essa me lembra tudo e todos. Mas afinal, o que seria de nós se não estivéssemos alienados a alguma coisa? Ainda que obcecados pela não-alienação, estamos fadados a permanecermos alienados; e a convivência é em si própria alienante e hipocrisia mesmo seria negar isso.
o homem puro, em essencia!
genial!
e atualizei o meu, da uma conferida
beijo!
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