Tristessa é para Kerouac o mesmo que Cass é para Bukowski: a mulher mais linda da... Cidade do México, uma paixão incerta, nonsense e inacessível. Em Tristessa (1960), Jack Kerouac compartilhou memórias biográficas, escreveu um livro poético e ao mesmo tempo doloroso. Não que seus livros anteriores não teçam poesia, mas neste livro fininho, a poesia consegue vencer a dor que Jack, o protagonista-autor, sente por amar Tristessa sem poder tocá-la. Mas, como sempre, a poesia de Kerouac não é gratuita; ela aparece furtiva, escolhe a dedo os olhos e o espírito de quem a lê.
O livro fascina. Contudo, inicia numa narrativa arrastada que, repentinamente, torna-se febril e, no lugar da monotonia, dá lugar a uma bela história – pois bem, estamos falando de Kerouac, capaz de fazer poesia macia num livro extremamente pesado, desse jeito: “suave é o chuviscar que perturbou minha calma”.
Diferente de On The Road (1957) e Os Vagabundos Iluminados (1958) – em que Kerouac retrata histórias simples, com caronas e mantras – em Tristessa, Kerouac se autobiografa de forma cruel e, ao descrever o mundo de Tristessa, nos leva aos becos da Cidade do México, narrando a rotina sem norte de uma viciada e seus amigos, na saga contínua para conseguir dinheiro e droga.
Devemos muito a Esperanza, que deu vida e inspiração a personagem central deste livro – uma prostituta mexicana, dependente de morfina, amada por Jack pelo seu jeito simples e sua fé na vida: “Tristessa é uma viciada e lida com isso magra e despreocupada, enquanto uma americana seria melancólica”, descreve o autor.
Antes de dizer adeus a esse livro, difícil não associar mais uma vez Cass a Tristessa, Bukowski a Kerouac – não estou incluindo Bukowski à geração beat, mas é inegável a semelhança entre as duas personagens, em personalidade e beleza. Quero voltar à mesa de bar, quando Cass espeta o nariz com um grampo e ironiza perguntando se ainda está bonita; nesse instante, sentimos a mesma aflição e dúvida despertada no momento em que Tristessa cai e bate a cabeça com força no chão. Pois bem, ai descobrimos que também as amamos!