A lentidão tem me dado sustos. Não é
o sopro vagaroso dos dias, esses correm depressa. O que me assusta e por vezes
inquieta são meus reflexos e raciocínio. Ando esquecendo palavras, a pronúncia
e a grafia. Leio, releio, encontro erros incomuns a mim. Estou vacilando no que
faço de melhor e isso me tortura. Não é só na escrita, é na rotina, nos
diálogos; histórias ficam pela metade, são assombradas pelo esquecimento
repentino que surge e toma de mim o que me conduzia no instante anterior. Fico
ali, inerte num vazio, sem ter como pedir ajuda, tentando reencontrar o que
perdi no meio da neblina que de repente envolveu a minha alma. É como se alguém
maior, mais forte, me puxasse pelo braço com firmeza enquanto ando pela
rua distraída; no susto, vou ao chão. Estremeço. Pode ser uma fase, pode ser que amanhã
não aconteça mais. Ou, quem sabe, seja o meu temor de nome alemão dando os
primeiros acenos. Hoje, me vi novamente diante do erro, me apoiando no espasmo
entre o meu estômago e o coração. Ai habita outra premissa, aquela de que todos
estão sujeitos a erros. Então percebo que aceitar o erro é tão digno quanto
reconhecê-lo. Mas essa leveza vem como um beija-flor que, sem saber, chegou e
foi embora depressa, levando consigo o “keep calm” que eu usaria para encarar o
rotineiro vacilar. Afinal, inconcebível é ser indiferente, ou até otimista,
diante dessas visitas que, aos poucos, se tornam comuns. Por isso, tranquei a
porta – a lentidão pode até forçar o trinco, insistir com ar dócil, mas não cederei.
Mas e quando, depois de ensaiar um recesso, ela surge numa tola receita de bolo
(de caixinha)? Fico ali, aceitando que não haverá bolo de laranja no café da
manhã, amanhã. Suspiro. Há quem diga que todo mal pode ser anulado com uma boa
noite de sono. Acredito nisso. Que a
condição de vagarosa se torne efêmera dentro de mim; e se dissipe, entre o sono
e o despertar.