O que se espera de uma manhã de sábado? Perto das 08h, o sol já arde nos olhos, quase queima. Na esquina de casa, paramos o carro na faixa e aguardamos a travessia de uma família. Pai, mãe e filho, os três de mãos dadas. Nada incomum. Apenas o fato de que o menino, com não mais de seis anos (imagino), conduz os pais cegos para o outro lado da rua. Atento diante da missão que realiza com zelo, ele ainda faz um sinal de “positivo”, agradecendo por aguardarmos. Uma criança cheia de responsabilidades, que não se volta contra o mundo em virtude disso; pelo contrário, é gentil e se permite a agradecer.
Depois, na aula da pós – é sábado de pós –, o tema da aula é inclusão no ensino superior e o professor lança a dura realidade de sociedades excluídas, de mães indígenas que têm seus filhos degolados enquanto são amamentados. Todos assistimos na televisão e, naquele instante, lamentamos. Mas, e depois? Quem se preocupa com essa mãe que não tem mais um filho para guiar e, hoje, perambula sozinha rumo à loucura? Ironia, Cazuza, foi você dizer que só as mães são felizes.
Até quando mataremos a verdade que reside dentro de nós? Sabemos que ela existe; por ser uma inquilina indesejável, não a alimentamos, deixamos que mingue na nossa falsa ignorância. Por que não há compaixão diante da verdade? Talvez, falta alguém que nos guie até o outro lado da rua e nos faça encarar o sol que arde os olhos – e permitir que ele queime a indiferença existente em nossos corações.