segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

↕ Amanhã é 26

Eu estou bem. A poça de sangue que cobre os seus pés, formada pelo sangue que dele escorre, não faz jus a tais palavras. Os murmúrios aumentam e a claridade o assusta. A cada minuto o seu “Eu estou bem” soa mais fraco. Ela, inerte, não entende direito o que acontece. Entrelaça as mãozinhas entre o peito, fecha os olhos e reza. Não sabe direito para quem, mas reza, porque um dia ele a ensinou a rezar. Ele a observa, “Como pode ser tão linda, a minha menina”. No mesmo compasso em que o pensamento nele vem, ela abre os olhos e seus olhares se cruzam; nesse instante ele cai. A claridade que há pouco o assustava virou escuridão. O sangue aumenta e cobre o chão do lugar como se fosse um lindo tapete carmim. Enquanto o levam para o hospital, ofegante ele balbucia, “Não me deixem morrer, eu preciso cuidar delas”. Então ela aperta sua mão e olha pela janela do carro; as ruas estão enfeitadas e as pessoas lá fora sorriem, é natal.

4 comentários:

Leonardo Silveira Handa disse...

Feliz aniversário e morte!

Vinicius Yuri disse...

Meu, adorei teu blog...

Vou dar uma lida em outros textos!!!

=D

http://greenbedroom.blogspot.com

Júlia Manacorda disse...

Olá, Clarice! Eu aqui de novo.
Fiquei muito lisonjeada com seus
elogios. Gosto muito dos seus
textos "socos no estômago".
Às vezes, dá vontade de sair fazendo vodu, não? Para sair cutucando um aqui outro acolá para ver se acordamos alguém. Bem, mas enquanto não somos iniciadas nas velhas artes, tu vai escrevendo...

Obs: ish...minhas atualizações estão atrasadas porque estou no terceiro ano, mas depois do dia 14 é U-hu! Liberdade.

Inté

Unknown disse...

que texto intenso !

gosto disso, parece Lord Byron :D