domingo, 12 de abril de 2009
Vi um par de cegos, vagando no caminho que antecede os passos. Trajes rasgados, pés calejados; cegos prosseguiremos! E não adianta esbravejar, este é o nosso destino prévio. Mesmo assim, ainda é difícil ver seus olhos sem deles necessitar.
Ouço você me chamar, mas as palavras ecoam longe, como vindas em outra língua. Como um beijo lançado ao vento, que nunca vem.
Com a cabeça encostada no seu peito, descobri que lá um coração ainda bate, forte, intenso. Então entendi.
Adormeci.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
↕ Viço de outono
Ando só. Sempre pelas mesmas ruas, fitando as pontas dos pés. Da janela a vejo acenando pra mim. A vida. E eu apenas a assisto, calada.
O dia nasceu preguiçoso, ou eu acordei como não deveria. O sol teima em não despontar entre as nuvens acinzentadas. De onde vem essa vontade doentia em se acuar, matar e morrer todos os dias? Talvez você pudesse ter me respondido em outro outono.
Já não lembro mais de um gosto que não seja aquele ácido, amante das suas últimas frases. Ora amor, ora ódio, ora desapego. Esse confronto me toma no colo e não me deixa andar. Segura forte, grosseiro, e não permite que eu aborde o estranho na rua e fale: “Vê, ela está acenando pra mim!”.
O som da bola de encontro ao chão empoeirado embala aquele adeus. É a fé que se despede mais uma vez. Antes de assassinarem a sua fé, essa capacidade de satisfação em pequenas coisas ainda era possível. “Como seria bom voltar a ser criança por apenas um dia. Ouvir a voz do pai mais uma vez, sentir sua mão forte, ver o sorriso da mãe, falar com as plantas. Perder todo esse peso alojado nas costas, e assim não mais arquejar no meio de uma canção,” pensou.
Mas a lucidez bate a porta...
Não pode perder o rumo, a carona, o viço. Ficar a mercê de fantasmas e de pernas que não são as suas, também não. E enquanto espera que ela se dissipe diante da janela, sonha e anda; calada e só.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
↕ Primeiro de abril