Ando só. Sempre pelas mesmas ruas, fitando as pontas dos pés. Da janela a vejo acenando pra mim. A vida. E eu apenas a assisto, calada.
O dia nasceu preguiçoso, ou eu acordei como não deveria. O sol teima em não despontar entre as nuvens acinzentadas. De onde vem essa vontade doentia em se acuar, matar e morrer todos os dias? Talvez você pudesse ter me respondido em outro outono.
Já não lembro mais de um gosto que não seja aquele ácido, amante das suas últimas frases. Ora amor, ora ódio, ora desapego. Esse confronto me toma no colo e não me deixa andar. Segura forte, grosseiro, e não permite que eu aborde o estranho na rua e fale: “Vê, ela está acenando pra mim!”.
O som da bola de encontro ao chão empoeirado embala aquele adeus. É a fé que se despede mais uma vez. Antes de assassinarem a sua fé, essa capacidade de satisfação em pequenas coisas ainda era possível. “Como seria bom voltar a ser criança por apenas um dia. Ouvir a voz do pai mais uma vez, sentir sua mão forte, ver o sorriso da mãe, falar com as plantas. Perder todo esse peso alojado nas costas, e assim não mais arquejar no meio de uma canção,” pensou.
Mas a lucidez bate a porta...
Não pode perder o rumo, a carona, o viço. Ficar a mercê de fantasmas e de pernas que não são as suas, também não. E enquanto espera que ela se dissipe diante da janela, sonha e anda; calada e só.
2 comentários:
Muito bom o texto, muito original o blog Jozieli! Pode não parecer, mas um blog contribui com o currículo de um jornalista. Mostra o gosto pela escrita e o compromisso em lançar novas postagens, regularmente. Além do fato que, no teu caso, o blog tornou teu nome busca fácil no google. Vou acompanhar mais! Beijo.
Gosto do seus textos. Esse aqui é intenso, mas intenso mesmo. De deixar a gente envolvido. Parabéns ;)
Postar um comentário