quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ausência do rouxinol

Os pássaros somem do céu conforme nos distanciamos da infância. Quando se é criança o céu parece ser muito mais movimentado por pios capazes de fazer despertar – alguns rouxinóis até morrem por amor, dizem.


A garoa veio furtiva, mas deixou no ar aquele cheiro gostoso de terra amançada pela chuva. Dia desses me deparei com alguém que não tem olfato. O que é pior, ser Grenouille ou não sentir odor algum? É certo que memória olfativa é inferior à visual, mas cheiro emite vibração, sensualidade, marca momentos e sentimentos que fazem o coração pulsar forte. Mas tem gente que evita. O que faz alguém evitar essas sensações? É a insistência em pensar.


Fugi delas como quem evita a consciência e suas verdades. Durante meses passei por inspirações nulas, indignas de uma frase no papel; sempre em branco, feito poeira de frustração que invade os olhos. Roberto jamais entenderia isso. Para ele basta que meu vestido esteja bom e o batom em boa tonalidade. Ainda aqui, nesse banco úmido, espero pelo homem que escolhi; encaro o silêncio dos pensamentos como a melhor rota de fuga.


Pelo céu, um pássaro voava maciamente. Mas Alicia não o viu.

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