sábado, 4 de janeiro de 2014

Aurora do recomeço



Entre as façanhas da natureza, o que mais me intriga é a aurora de cada amanhecer. Muito mais que assisti-la, ser acariciada por ela todos os dias é o que nos torna otimistas diante do mundo. Com ou sem a luz do sol, ela vem – e literalmente não teme tempo feio. De efeito, é capaz de resgatar um instinto inconsciente em cada um de nós: o de recomeçar.

Gosto de pensar que o amanhã, embora travesso e incerto, ao menos enquanto escrevo essas linhas me traz a certeza de “autre chance”. Quem disse que uma vez é única e incontável estava certo, mas não se pode limitar-se diante a arbitrariedade do momento súbito.

Por vezes, é difícil receber a luz incômoda do amanhecer. Os olhos doem, preferem o conforto da escuridão do sono, enquanto os pés calejados sustentam a alma que padece. Pois bem, estamos naquele dia em que “a gente se sente como quem partiu ou morreu”. Não sou avessa à melancolia, até acho que seja necessária. Mas é preciso garantir que sua visita seja breve, de intenção genuína – cujo propósito seja apenas acolher a alma, não consumi-la. 

Pergunto: é preciso ser janeiro para trajarmos nos olhos a vontade do novo, de novo? Oras, “faceboquiar” louvores à vida só vale quando o frescor efusivo vira atitude. E não é o ano que tem que mudar, é você – e o processo é permanente, constituído por hábitos diários. 

Sejamos por inteiro apenas amor! De começo, basta aceitar a visita da aurora que, se fosse gente, seria uma senhora com cheiro de colônia de avó e diria coisas singelas, feito aquelas mulheres que não alteram o tom da voz e, nem por isso, deixam de ser ouvidas. 

Aurora, nome bonito para designar à alguém. Mas você pode personificar a sua. É só reconhecer que a cada novo e revisitado amanhecer, há a virtude de tentar de novo e poder fazer diferente. É possível até, quem sabe, rever aquele adeus.

Um ano cheio de auroras a você, que chegou até aqui. 


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