Foi o ano em que, certamente,
mais questionei a existência, o que culminou em dezenas de textos iniciados e
não concluídos. Boa parte deles, escritos numa escrivaninha no estilo
vitoriano, madeira rústica – meu primeiro espaço condizente para leitura e
escrita nesses vinte e cinco anos. Verdade seja dita, não há lugar para a
inspiração, ela vem sem cerimônia, naquele momento do sono que antecede os
sonhos, no andar pela calçada, no movimento de um louva-a-deus, ou na chuva que
desenha um rosto na janela. O que ficou ainda mais evidente neste ano.
Descobri músicas e autores – não
tanto quanto gostaria, mas foi um ano de boas surpresas. Me vi nas canções do
Phill Veras, persegui Ricardo Darin em seus filmes. Soa óbvio reverenciar o
cinema argentino, mas ele iluminou os meus finais de semana. De Lima, Paris,
Londres e Tóquio, Mario Vargas Llosa me mostrou um homem loucamente apaixonado,
que me ganhou apesar do extremo. Também elucidou uma página política e social da
América do Sul, até então ignorada por mim. Teve ainda Carlos Ruiz Zafón, com
Daniel, Carax e Fermín Romero de Torres, que me conduziram pelas ruas de Barcelona
em suas histórias. Mas foi no filme sobre Simone de Beauvoir e Violette Leduc,
que compreendi a diferença entre a escrita existencial e a visceral – pertenço à
primeira.
Foi o ano em que, além da escrita
e da fotografia, cozinhar também passou a funcionar como uma terapia,
incrivelmente gratificante. Então me vi pesquisando sobre Julia Child e
desejando (muito) livros de receita e utensílios domésticos. Também me permiti
a fotografar profissionalmente, onde pude conhecer pessoas e histórias
inspiradoras – uma barreira em processo de derrocada.
Passei a respeitar os personagens
da Marvel – respeitar de verdade. Vacilei diante da biografia de Virgínia
Woolf, porque ela ainda me machuca. Entrei na academia, mas foi ao praticar
dança (depois dos 24) que libertei meu corpo. No dia a dia, aperfeiçoei meu
ofício, aprendi muito e presenciei, na prática, como o jornalismo profissional
pode fazer a diferença, traçar um diálogo verdadeiro e informar com qualidade
nas redes sociais.
Também foi um ano de eleições,
onde opiniões divergentes imperaram. Triste foi ver deturparem a democracia que
lutamos tanto para reconquistar, assim como se ampararem numa liberdade de
expressão corrompida por lama e egoísmo. Do ódio vazio, quiseram dividir o
país, graças ao esquecimento de outrora. Esperança ao que está por vir.
Mas o que ficou mesmo desse ano
foi o amor, capaz de vencer tudo. E aquele trecho forte da canção que diz “Eu
sou, eu sou, eu sou o amor, da cabeça aos pés”, dos Novos Baianos, finalmente
começou a fazer sentido. Porque os dias só valem realmente à pena quando a
gente passa a reconhecer, nos gestos mais simples, a presença dele – quando
reconhecemos e devolvemos a mesma dose, sem enigmas ou amarras.
O que eu quero para 2015, além de
amor? Muita paz, sobretudo de espírito.
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