sábado, 30 de agosto de 2008

↕ Carta Póstuma

O quanto tudo mudou. A casa antes agitada se tornou escura, habitada por móveis empoeirados. O quintal há tempos deixou de ser cuidado e as árvores nele estão velhas, secas e sem vida. Inevitavelmente, me vejo igual a este quintal. O amarelo da fachada da casa deu lugar a cor alguma. Nossos livros enfeitam a estante junto aos nossos vinis; objetos cheios de lembrança, que desde que você partiu, não saem do lugar. A verdade é que muita coisa foi esquecida. Mas quando revisito nossas fotografias, reafirmo que a nossa história permanece inteira na minha memória. E se eu fechar os olhos consigo te ver como no primeiro dia, na primeira vez; e lembrar de cada momento. Nos últimos anos, suas mãos estavam tão cansadas, seu rosto flácido e os cabelos perderam a cor. Porém, você continuava linda. Quando fecho os olhos a noite, esperando que a morte venha me buscar, sinto um leve peso sobre mim. Nesses instantes tenho a impressão de que você está ali, dormindo em meu peito. Sabe, queria poder voltar no tempo, quando eu, com zelo, ainda podia lhe proteger. E então eu balbucio baixinho: volta pra casa. Mas você não vem. E agora a casa está vazia, mas o teu cheiro continua aqui.

Um comentário:

Leonardo Silveira Handa disse...

Hey! Que demora para atualizar o blog, hein? Está mais do que na hora de brotar mais um escrito. Aguardo!
He he.