sábado, 16 de maio de 2009

Meu bem, você deveria saber que o som alto não abafa os gritos. Eles regressam quando o céu veste cinza. Como essa cicatriz rosada, que lateja em dias de chuva, alojada e saliente em minha pele? É. Aliás, acho essa sua cicatriz um charme só. Mas a questão é que você deveria comprar um gravador e largar esse cigarro. Isso de ter que anotar as ideias o tempo todo é ridículo. Isso vai te matar. O alzaimer precoce? O bombardeio de ideias que me assombram e inspiram e depois fogem? Os dois, mas principalmente esse cigarro e a bebida. Não finja se preocupar, vou morrer é de amor, não de cirrose! “Por” não, “de” amor. Morrer por amar demais, em excesso. Por ter tantas paixões, por colecionar dores. Por ser essa explosão de vida e sentimentos que no estio flamejam feito fogo, e que em seguida apagam e não mais acendem. Para com isso, não me venha com divagações baratas! Eu amo sim, por isso escrevo! Você deveria me ler mais, então saberia. Ler as histórias que não vivi, as coisas que não faria, os amores que não matei. Não, obrigado. Não gosto dos seus textos. Nem eu, acho que é essa desorganização toda que ainda não aprendi a controlar. Mas eu gosto de gente doída. Eu também. Você escreve porque tem medo. Com essa facilidade de esquecer e de mentir, escreve pra recordar. Mentir? De poeta e mentiroso, todo mundo há de ter. Se não têm, acreditam ter. E a gente acredita que têm. Exatamente, e ainda aplaude. Viva! Mas sobre você, digo que suas mentiras são somente pra si. Mente que é capaz de esquecer. Não! Sim, e escreve por ter medo de ser esquecida. Você quer é permanecer. Mas eu não lhe condeno pequena, afinal, quem não quer? Eu escrevo pra cessar a dor, e só! Não! Escreve pra não virar somente pó! Chega. Viu! E quanto aos gritos? Não os ouço, os leio. Enfim, eu acho que você tem razão, vou largar esse cigarro, um dia desses entro em combustão antes da hora e não terá ninguém pra guardar minhas cinzas ao pé da cama. Ninguém. Ah, já te contei a minha teoria sobre a invenção do twist? Não! Nem quero saber, por hora nada de dançinhas iê iê iê... Sejamos sutis e vamos brindar nossas insônias. Sutil é esse seu mau humor crônico, não sei porque perco tempo com você. É porque você me ama. Nunca! Enfim, acho que amanhã vai chover. Cicatriz filha da puta.

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