segunda-feira, 18 de maio de 2009

↕ Outra lira

É como disseram outrora, que a vida nos seus 20 anos "é uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço".


O espelho diz que envelheci. Cheguei aos 20 e tudo já havia acontecido. Aos 20, quem tivesse me conhecido três anos antes notaria o quanto eu havia envelhecido. Ganhei uma cor opaca, um olhar tristonho e uma ruga na testa que aqui não estava; daqui não sairá nunca mais. Tenho os pés calejados, a chuva queima e o sol envelhece.


Bem antes dos 20 foi quando comecei a transformar as pessoas em personagens. Cambaleando nas recordações, tecia suas histórias sem desenhar seus rostos. Creio que sem eles, meus personagens, eu não seria a pessoa que sou. Fico me imaginando daqui uns anos, sozinha, sempre carregando nas costas o peso de uma idade a frente daquela que tenho; me vejo e me entristeço.


Então, quando sinto frio os trago para perto de mim. Passo os olhos por eles, acaricio seus rostos, sinto seus gostos. Confesso, às vezes não consigo passar da décima linha. É como se eles nunca tivessem sido pessoas. É como se sempre tivessem sido meros personagens, desses dos livros de outros.


Ainda somos aqueles personagens, vestindo novos trajes a cada linha lida, meu amor.

7 comentários:

Vani disse...

É... não somos mais que meros personagens, em quase tudo semelhantes àquele bibelô démodé sobre a estante moderna: ninguém sabe o que ele faz lá, destoante... mas alguém desejou que estivesse lá...
Assim somos nós, vivendo um personagem na carcaça que o outro moldou; e pensando que somos nós mesmos, vamos vivendo uma vida que não é nossa, com medo da descoberta de que não somos nada sem tudo isso.

Vani disse...

E o que é pior: pensando que somos alguma coisa em tudo isso.

Luiz Fernando Cardoso disse...

Jozieli Wolff... nome de escritora, notívaga como escritora, solitária às vezes (pelo que percebo ao vê-la em plena sexta-feira à noite no MSN), sabe fazer um bom café (pelo que ela própria anuncia no blog)... enfim, hábitos de escritora. Quando se tornar escritora de best seller, estarei na fila para comprar um exemplar no dia do lançamento.

Nely L. disse...

Somos todos personagens da vida real, moldados e regrados por nós mesmos e pelo meio ao redor, certo?
Se tu é dona dos teus personagens de tua vida real, mata os que não tem valia, cria novos de beleza e frescor dos (sim!) 20 anos.
Parabéns pelo texto, muitíssimo bem escrito! \o/

Nely L. disse...

Lembrei de uma música do Los Hermanos ao ler seu texto, chamada O velho e o moço.
"Deixo tudo assim, não me importo em ver
a idade em mim
ouço o que convém
eu gosto é do gasto..."

Júlia Manacorda disse...

Meu Deus! Até pareci que morri, mas é só preguiça. Perdão.
Eu tenho muito de completar 20 anos.
Duas décadas. Ainda tenho um ano e meio pela frente.
O seu texto me lembrou Woody Allen e seus mil e uns personagem.
Mas eu gosto dele.
E obrigada pelo elogio.
Tentarei voltar a ativa.

Jozieli disse...

E transformar todo e qualquer martir em açucar.