domingo, 7 de fevereiro de 2010

Um passeio pelos jardins da infância

“Colo o rosto no seu peito para te ouvir pulsar.” Deitada no peito dele, lembra de quando era criança e costumava juntar umas cinco peças de roupa, o urso preferido, e depois de organizar cuidadosamente a “mala”, chegava na sala, olhava para os pais e dizia “to indo embora!”. E saia, correndo e gargalhando pelo quarteirão, até ser alcançada pelo pai. A cena se repetiu incontáveis vezes na infância; impulsionada pela ânsia, até então discreta, de ficar só. Mas ela nunca foi muito longe, e com o tempo passou a correr em círculos pela trilha do mundo, forjando rastros para quem pela estrada passasse e se pusesse a segui-la. Nunca permitiu ser guiada - até aqui. A mudez da solidão se tornou sua única companhia; que lhe via pura, nua, de um jeito que ela nunca se mostraria voluntariamente – não era tímida nem pudica, temia a nudez porque ela sempre vinha por último e era a dona da palavra final.


Já se passaram alguns minutos que os dois estão ali, num absoluto silêncio. Ela traz uma flor no cabelo porque não pode ganhar as que estão no caule. Olha cada detalhe do rosto dele – “Quero eternizar o seu olhar. Por isso o fotografo, emolduro, e coloco a fotografia num bidê dentro de mim”, balbucia para si mesma. Ele tira do bolso uma fita K7, entrega para ela enquanto diz: “eu vou te mostrar que as coisas podem ser diferentes, só me deixa... me dê tempo para que eu possa te guiar”.


Logo em frente havia uma árvore, forte, firme, com galhos longos e que assistia tudo. No verão anterior essa árvore possuía um galho que fazia uma enorme sombra no lugar onde eles estavam. Mas o galho não está mais lá, deve ter sido podado, ou apenas quebrou. Hoje o sol ilumina esse lugar.


Não há nada pior do que o vazio de uma folha em branco. Por isso, enquanto escrevo sobre eles, me pergunto se devo apressar os passos e esboçar logo o final feliz dessa história. Então, percebo que ele virá em sopros, e eu posso levar a vida inteira para alcançá-lo.


Mas hoje eu tenho um bom guia; e o anseio de ir embora repousa nos jardins da infância.

5 comentários:

Unknown disse...

Jozi querendo fugir de casa :D!

Ketlyn Lourenço disse...

Lindo!
Adorei essa tua fase mais romântica, menos drástica =D
E acredito conhecer os protagonistas dessa história ;)

Vani disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vani disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vani disse...

Cheguei à conclusão: pessoas não gostam de tragicidade...rs... muito interessante mesmo. Eu, pelo contrário, prefiro a outra fase ;)
Mudei meu blog: http://lalettredudelire.blogspot.com/
Bjs.
Vani.