quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Cores depois do Carnaval



Quarta-feira depois do Carnaval. A euforia alheia se despede, enquanto a cortina oscila como uma bandeira em alto mar. É um abrir e fechar calmo, guiado pelo vento fresco que sucede a chuva de verão. Enquanto se move, feito uma dançarina que exibe o gingado com o balanço da saia, a luz forte clareia o quarto que hora traja cinza, hora recebe um afago morno feito de resplendor.  Claridade vinda assim, furtiva, faz os olhos murcharem. Afinal, ninguém suporta tanta sinceridade. Chega doer. Mas de onde vem essa dor? É uma dor vestida de Colombina, receio.

Por pouco, o cinza da “quarta-feira de cinzas” foi soberano. Mas o branco foi mais destemido e invasivo, se dissipando e dando espaço ao azul escondido atrás das nuvens finas. Não há mais vestígio de chuva lá fora. Aqui dentro, no meu peito, uma sensação de sossego ganha força na medida em que as nuvens andam depressa, sem pausa para formar nenhum desenho.  Será que há mais alguém vendo isso? Bem possível, pois está nos livros, está nos filmes, que o céu é para todos. Ao menos para àqueles que, de vez em quando, se detêm na tentativa de decifrar o que é comum a todos. Como o céu, o sol, a lua, a dor, a esperança, o riso, a alegria. A morte.

Não há cinzas na minha quarta-feira de cinzas. E quanto ao Carnaval? Embora aparentemente seja regra a quem nasceu no ponto verde-amarelo deste lado do meridiano, às vezes é possível escolher o lado avesso. Ou aceitá-lo sem banalidades e sem ziriguidum-dum-dum. Será mesmo possível? Enquanto a resposta não vem, fica a certeza de que o Carnaval é para todos, mas a quarta-feira não.

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