Certa vez
fotografei duas pombas-rolas namorando; uma roçava o bico miúdo na cabeça da
outra, que com os olhos bem fechados imitava a expressão de alguém que ganha um
doce carinho. É uma foto bem bonitinha, que me faz pensar que o amor não é esse
nó impossível de desatar que as pessoas dizem por aí, tampouco é um ser
indomável de sete cabeças – afinal, até uma pomba-rola sabe disso. Não, não é
preciso ser irracional para conseguir conduzir uma relação avessa às convenções
tortuosas e trágicas, dignas dos poemas desiludidos de Álvares de Azevedo.
Lamuriar e
enaltecer o “desapego do amor jamais correspondido”, por mais demodê que seja, ainda
é comum – à imaturidade amorosa. Aprender que a comédia romântica não acontece
do lado de cá da tevê é fundamental para receber o amor do outro e, sobretudo,
o amor próprio. Não fantasiar atitudes, nem tentar
adivinhar pensamentos alheios, em todos os tempos verbais, são
premissas básicas e importantes. Mas isso tudo vem com o tempo, garantem.
Enquanto ele não vem, quem sofre com difamações é o “amour”.
Por essas
e outras, sou totalmente parcial na defesa do amor. Oras, não pode haver essa
propagação injuriosa dos feitos amorosos, tampouco a ideia de que ele não
existe, pois é pura ilusão. Falo do sentimento, não do que as pessoas fazem com
ou sem ele. A figura do sentimento usando armadura e lança na mão, que luta
contra o mal, vence ou perde, é bem culpa de Shakespeare – quem vai contestá-lo?
Eu, não – e, depois, das novelas. Resta se espelhar na leveza das pombas;
afinal, somos tão soberanos que ainda não percebemos que quando o assunto é amar,
vive mais quem expõe e complica menos.
Enfim, o amor só se materializa quando
deixamos de vê-lo como um poema épico ou conto de fadas. Garanto, o amor está
mais para verso livre, como os de Quintana. Mas o saudosismo do amor platônico
ainda é, e pelo jeito será para sempre, muito mais convidativo para a grande
maioria das pessoas. Que pena.
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