quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Descomplicando o amor






Certa vez fotografei duas pombas-rolas namorando; uma roçava o bico miúdo na cabeça da outra, que com os olhos bem fechados imitava a expressão de alguém que ganha um doce carinho. É uma foto bem bonitinha, que me faz pensar que o amor não é esse nó impossível de desatar que as pessoas dizem por aí, tampouco é um ser indomável de sete cabeças – afinal, até uma pomba-rola sabe disso. Não, não é preciso ser irracional para conseguir conduzir uma relação avessa às convenções tortuosas e trágicas, dignas dos poemas desiludidos de Álvares de Azevedo.


Lamuriar e enaltecer o “desapego do amor jamais correspondido”, por mais demodê que seja, ainda é comum – à imaturidade amorosa. Aprender que a comédia romântica não acontece do lado de cá da tevê é fundamental para receber o amor do outro e, sobretudo, o amor próprio. Não fantasiar atitudes, nem tentar adivinhar pensamentos alheios, em todos os tempos verbais, são premissas básicas e importantes. Mas isso tudo vem com o tempo, garantem. Enquanto ele não vem, quem sofre com difamações é o “amour”.


Por essas e outras, sou totalmente parcial na defesa do amor. Oras, não pode haver essa propagação injuriosa dos feitos amorosos, tampouco a ideia de que ele não existe, pois é pura ilusão. Falo do sentimento, não do que as pessoas fazem com ou sem ele. A figura do sentimento usando armadura e lança na mão, que luta contra o mal, vence ou perde, é bem culpa de Shakespeare – quem vai contestá-lo? Eu, não – e, depois, das novelas. Resta se espelhar na leveza das pombas; afinal, somos tão soberanos que ainda não percebemos que quando o assunto é amar, vive mais quem expõe e complica menos.   


Enfim, o amor só se materializa quando deixamos de vê-lo como um poema épico ou conto de fadas. Garanto, o amor está mais para verso livre, como os de Quintana. Mas o saudosismo do amor platônico ainda é, e pelo jeito será para sempre, muito mais convidativo para a grande maioria das pessoas. Que pena.


Nenhum comentário: