quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Quando dizer adeus



Quando o fim de tarde endurece o sorriso, fazendo com que o coração marche em desânimo dentro do peito, eis o indício da despedida rotineira, que desabrocha aos domingos. Apesar do desalento, os passos vêm largos, com pressa para encontrar a melancolia. No fim, essa “melancolia” diante da despedida irrefutável é o único afago; como mostra Lars von Trier naquele filme em que iguala  a Terra a uma noz esmagada.

Mas, afinal, não há nada mais bucólico que o anoitecer de fim – e recomeço – de domingo; cuja despedida é trazida por uma brisa leve que sossega e perturba. “Termina para quem parte, recomeça para quem fica”, reflito. “Será?”. Contudo, em ambas as situações, não há fome, não há viço, tampouco há sono. Não há nada. Enquanto o adeus não vem, só há a incerteza comum diante de cada novo e revisitado passo.

Embora a consciência da despedida anunciada seja vivaz, desconhecer a data escolhida pelo adeus comum a todos é o que tortura os corações cambaleantes. “A morte, quando chegará? Para mim, para os outros...”, divago.  Ela não é como o domingo, de visita previsível, mas pode vir com ele – e esse “pode” às vezes vem com um sorriso malicioso, deixando algumas tragédias insuperáveis  de presente; como a morte de duzentos e tantos sonhos juvenis. Então, eis a segunda-feira, com a cara lavada, mostrando que a vida segue. “Para aonde?”, pergunto e, às vezes, esqueço.

Há em cada um de nós uma faísca da maledicência – bípede – em relação aos dias, aos anos. Também há a complacência – também bípede – que insiste em admirar a aréola do próprio umbigo. Enquanto eu, aqui, redescubro Virgínia, sonho com a Londres de 1910 e peço, enquanto você dorme do seu jeito singelo – respirando pesado, como quem sonha pela última vez. “Peço o quê? Para quem?”. Peço a Deus, para que me deixe mais um pouco; nos fins de tarde, no início de cada sorriso.

Mas eis a vida, tão breve.  


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