Fiquei tanto tempo sentada aqui, inerte, tentando contar os
pingos de chuva. Esse vento com frescor de entardecer de verão é alento para dias
cada vez mais breves. Mas, por favor, não confunda fugaz com leveza. Nada
disso. Não há nada de singelo nos dias – apenas o amanhecer, que se anuncia em
um tom rosado, lindo, galgando esperança.
A verdade é que predomina no ar um peso que inibi sorrisos. É
um cansaço, compartilhado entre os olhares. Desconhecidos que se ignoram diante
da fragilidade mútua. Então, na tentativa torta de afiar as horas, apresso
ainda mais o passeio dos ponteiros. É um ritmo acelerado, mecânico, que
balbucia minha fuga. Não há amor, nem vacilo; apenas uma marcha perfeitamente
ensaiada.
Tudo em vão. Continuo aqui, inerte, indagando a água que cai
sem rumo, sem destino. E o meu? Confundo a lógica diante dos outros. Absorvo
suas tristezas e justifico tal façanha com uma única palavra: sensibilidade. Ou
é fraqueza? Antes eu fosse insensível, invisível ou, melhor, previsível.
Pesaria menos? Talvez.
Hoje, prevalece a sensação de que até esse pingo de chuva que
paira manso no meu dedo é mais feliz do que os corações cambaleantes, que
buscam a proteção fraudulenta de guarda-chuvas. Ah, se eu tivesse o humor de
Ariano Suassuna ou pudesse ser um dos seus personagens mentirosos. Talvez,
pesasse menos. Será?
Acontece que eu passo muito tempo aqui, inerte, tentando contar
os pingos, tentando encontrar um pouco de ternura. Nos olhares, na chuva. Em
mim.
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