domingo, 27 de julho de 2008

↕ Se o amor tivesse um cheiro, qual seria?

Um lápis preto tem a ponta afinada. A folha sobre a mesa, continua lá, em branco. Agora, algumas dezenas de círculos sem nexo são feitos sobre ela. Porém, nenhum garrancho torto capaz de responder qual seria o tal odor do amor, é formado. Talvez a folha continue nua porque não se pode escrever sobre o que desconhece.

Embora a solidão seja algo divino, e eu prefira a suave melodia do silêncio como companhia, nesse momento de total solidão eu vegeto. Suporto qualquer ausência, menos a dela. Em momentos como esse em que a inspiração me deixa, eu morro. Hoje eu estou morta. Minhas mortes podem perdurar dias, semanas, meses. São períodos de tortura, em que os papeis continuam em branco e o simples fato de se olhar no espelho causa asco. É quando a vida se torna oca, e eu me canso de viver, então padeço. Hoje estou cansada, não triste. Cansada e vegetando, sem achar a tal resposta.

Da janela vejo você na cafeteria da esquina. Cabisbaixo, mirando o que eu acredito ser uma xícara de café. Então, no mesmo compasso em que lembro de que estou atrasada, lembrei da vez em que me viu nua, e das vezes em que pude sentir o cheiro do amor. Agora de olhos fechados posso sentir. É um odor enjoativo, uma mistura de mentiras e mel. Sim, você me ensinou há muito tempo que o amor é composto por áridas mentiras, e é adocicado pelo mel. Mentiras e mel quando juntos formam algo comparado com o caos. Amor é caos. O amor tem cheiro de caos! Sendo assim, o amor tem o teu cheiro. O cheiro daquele homem ali, de terno azul, com os braços cruzados e sem dinheiro.

6 comentários:

Luiz Fernando Cardoso disse...

Gostei muito do teu artigo Jozieli. Continue escrevendo, pondo no papel tuas idéias, teus pensamentos, porque é assim que melhoramos a qualidade daquilo que escrevemos. Cada palavra que imortalizamos num texto lapidado nos ajuda a refinar a habilidade da escrita - habilidade essa que, num País de pouca leitura, poucos têm.

Luiz Fernando Cardoso
Jornalista, Maringá-PR

giancarlo rufatto disse...

(off) ela não quer mais cantar.

eu até sugeri um disco com musicas minhas, mas ela esta desiludida.

Jozieli disse...

oh, que triste!

Leonardo Silveira Handa disse...

Hey hey, my my. O cheiro de caos é meu. Mas, tentando responder, se tivesse um cheiro, seria de pólvora. Se bem que alguns podem dizer que o cheiro seria de bucho. No entanto, outros diriam que tem cheiro de flor, chocolate ou Channel nº5. Tão meloso, não? Prefiro o cheiro do pó amansado pela chuva.

Igor Lessa disse...

Que lindo Jozieli... =]
Como os melhores, você conseguiu, neste texto, fazer do tema "falta de inspiração", algo muito inspirador. O desfecho ficou ótimo e gostei muito da frase "O cheiro daquele homem ali, de terno azul, com os braços cruzados e sem dinheiro". Passa uma coisa, quenão sei descrever...

Você escrevendo cada vez mais belo, em, moça! hehe

Um beijão!

Olhando Pra Grama - Crônicas de um ansioso

*Raíssa disse...

Adorei as suas descrições! O amor tem mesmo cheiro de caos, misturado a mentiras e mel. Cada pessoa sente o cheiro do amor de um jeito, mas continua com a mesma essência.

Beijos