Flores
Você está ai. Os mesmos olhos que ontem me fitavam e condenavam, agora estão selados. O rosto antes levemente corado, agora é tomado por uma enorme palidez. A boca agora gélida e imóvel, nem de longe parece ser a mesma que ao fechar os olhos consigo sentir quão ardente era quando encontrava os meus lábios. Sua mão pequena, agora se faz entrelaçada sobre o seu ventre, enrijecida e fria.
Lembro da primeira vez em que toquei no seu rosto. Da primeira vez que a beijei ao som de uma música qualquer. Da primeira vez que me deixou guiá-la pela mão. Mas mesmo aqui, parado diante de ti nesse caixão, continuo com a mesma sensação e crédulo de que somente o teu peito junto ao meu, é capaz de criar um calor que facilmente acabaria com o vazio que carrego comigo agora, e o frio que sinto ao tocá-la. Lembro de tanta coisa querida. Só não lembro de ter dito que a amava. Desculpe se sempre fui tolo. Mas hoje lhe digo: “Eu amo você”.
Lembro da primeira vez em que toquei no seu rosto. Da primeira vez que a beijei ao som de uma música qualquer. Da primeira vez que me deixou guiá-la pela mão. Mas mesmo aqui, parado diante de ti nesse caixão, continuo com a mesma sensação e crédulo de que somente o teu peito junto ao meu, é capaz de criar um calor que facilmente acabaria com o vazio que carrego comigo agora, e o frio que sinto ao tocá-la. Lembro de tanta coisa querida. Só não lembro de ter dito que a amava. Desculpe se sempre fui tolo. Mas hoje lhe digo: “Eu amo você”.
Vísceras
A gente passa a vida inteira acuado pelo medo, quer ver?
A gente só faz reclamar, com medo de se acomodar. A gente ouve música doída enquanto chora mágoas, com medo de gargalhar. A gente não pisa na terra descalço, com medo de se sujar. A gente não sente a chuva tocando nosso corpo – como um homem nos guiando por algum salão ao som de um jazz qualquer – com medo de ser intitulado “anormal”. A gente não sente o vento, com medo do frio. A gente não tenta, com medo de conseguir. A gente não grita, com medo de gostar e repetir a dose. A gente anda na rua sem olhar pros lados, com medo de ser desmascarado. A gente não sabe amar – não sabe amar a família, os amigos, o cachorro. A gente causa mal a nós mesmos, com medo de causar aos outros. A gente passa a vida com cautela, com medo de se arriscar no abismo. E por fim, a gente deixa pra sentir o quanto ama alguém somente quando a pessoa vai embora, por medo de se declarar e ouvir um “eu também te amo”.
A gente só faz reclamar, com medo de se acomodar. A gente ouve música doída enquanto chora mágoas, com medo de gargalhar. A gente não pisa na terra descalço, com medo de se sujar. A gente não sente a chuva tocando nosso corpo – como um homem nos guiando por algum salão ao som de um jazz qualquer – com medo de ser intitulado “anormal”. A gente não sente o vento, com medo do frio. A gente não tenta, com medo de conseguir. A gente não grita, com medo de gostar e repetir a dose. A gente anda na rua sem olhar pros lados, com medo de ser desmascarado. A gente não sabe amar – não sabe amar a família, os amigos, o cachorro. A gente causa mal a nós mesmos, com medo de causar aos outros. A gente passa a vida com cautela, com medo de se arriscar no abismo. E por fim, a gente deixa pra sentir o quanto ama alguém somente quando a pessoa vai embora, por medo de se declarar e ouvir um “eu também te amo”.
Cinzas
Hoje eu sou um amontoado de medos, vísceras, cinzas e flores. Tirando as cinzas e as flores com aroma enjoativo, você é igual a mim. Quanto a você querido, esse seu “eu te amo”, muito embora perto, ecoa longe. E digo mais, se fosse pra dizer que me ama no meu funeral, continuasse calado, seria melhor. Mas pegue um punhado de mim agora, coloque naquele seu cinzeiro colorido, e misture as minhas cinzas com as do seu cigarro. Assim, continuarei na sala, recebendo seus convidados, enquanto o seu amor e o seu luto perdurarem – o que será por poucos dias.
5 comentários:
eu? o que eu propus? não lembro?
:P
Jozi, duas coisas:
Muito criativo esse jeito de diidir os textos! Flores, Vísceras, Cinzas. Nossa, demais mesmo, gostei muito.
Outra coisa: A parte "Vísceras" está simplesmente visceral!!! hehehe O enredo é muito bom e o final, novamente, não deixou a desejar, mas gostei muito desse segundo texto!
Gosto muito do seu jeito de escrever. Já falei isso, né?
Um beijão!!!
muda meu link, toquei de oculos. muda pra oculos do vovo.
:P
Toc, toc. Retribuindo a visita, pois colocar elogios no seu texto é quase uma redundância. Muito bacana.
Maravilhoso esse texto! Adoro as suas metáforas, seu modo de escrever e de ver o mundo...
Beijos
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