“E é pela agitação desta cidade imensa, por esta vida atual, cotidiana, que eu amo o meu Paris numa ternura loura. Sim! Sim! Digo bem, numa ternura – uma ternura ilimitada. Eu não sei ter afetos. Os meus amores foram sempre ternuras... Nunca poderia amar uma mulher pela alma – isto é: por ela própria. Só a adoraria pelos enternecimentos que a sua gentileza me despertasse: pelos seus dedos trigueiros a apertarem os meus numa tarde de sol, pelo timbre sutil da sua voz, pelos seus rubores – e as suas gargalhadas... as suas correrias...
“Para mim, o que pode haver de sensível no amor é uma saia branca a sacudir o ar, um laço de cetim que mãos esguias enastram, uma cintura que se verga, uma madeixa perdida que o vento desfez, uma canção ciciada em lábios de ouro e de vinte anos, a flor que a boca de uma mulher trincou...
“Não, nem é sequer a formosura que me impressiona. É outra coisa mais vaga – imponderável, translúcida: a gentileza. Ai, e como eu a vou descobrir em tudo, em tudo – a gentileza... daí, uma ânsia estonteada, uma ânsia sexual de possuir vozes, gestos, sorrisos, aromas e cores!...
(Mário de Sá-Carneiro, 1913, Lisboa)
Um comentário:
que "cousa"!
não. nunca li esse tal de nietzsche não. nem esse sá-carneiro.
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