“Eu não deveria ter vacilado por tanto tempo com a vida”. É o que pensa enquanto o carro gira na pista, prestes a beijar o eixo dianteiro de um caminhão amarelo; um beijo mortal. Tudo gira, então ela pensa nos filhos, no marido, na mãe: “eles têm que se conformar, afinal, a vida é feita de perdas”. A colisão acontece. Barulho forte. Escuro. Fora do carro, ela sente uma dor terrível pelo corpo: “e eu que achava que a dor do parto só perdia para a que se sente durante a ânsia de romper o hímen”. Agora, sua vida é uma vela cuja chama flameja fracamente.
Chove. Do céu caem finos pingos de chuva que molham seu rosto, e que disputam espaço com o sangue carmim que desenha em sua face algo abstrato. Ela afasta os lábios com dificuldade, e permite que algumas gotas entrem pela sua boca que precisa sentir aquele gosto. “Por que foi mesmo que eu perdi o hábito de tomar banho de chuva?”, pergunta às suas recordações, enquanto se banha no centro do círculo formado por dezenas de curiosos que se aproximam. Nesse instante, ela ouve duas senhoras alarmarem: "Jesus! Olhem o rosto dela!!!".
Ela está ali, no meio da rua, esperando, esperando: “cadê a tal luz no fim do túnel?”, questiona. Ela não sabe, mas o que ela está esperando é que a vela se apague. Mas ela só precisa esperar mais uns três minutos, no máximo, pois embora a chama ainda emita calor, sua calidez está indo embora... 3, 2, 1... até que some. A falta de fé em si mesma foi o sopro de vento que apagou a vela.
Luiza acorda. Olha para o teto, para o marido, para o teto de novo. Ao olhar pela janela, para o céu, seus olhos congelam naquela direção. Sorri.
Sai da cama, pois às nove horas tem salão marcado. Está decidida: cortará os cabelos, bem curtos! “Então dirão: que lábios bem delineados, que olhar bonito ela tem!”.
Um comentário:
foi como um pesadelo mas que parece ter feito sopro de vida na moça. gostei do texto, jozieli.
ah! feliz 2010, muita paz e luz pra ti!
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