Augusto sabe que vai morrer em instantes.
O uísque desce pela garganta sem gosto. Suas mãos já não seguram mais o copo com firmeza. Verdade seja dita, Augusto vagou por uma vida inteira e nunca segurou nada com firmeza.
Apertou os lábios flácidos, fechou os olhos. A janela abriu de repente, depois de um longo tempo de escuridão. Os raios do sol invadiram seu corpo tão intensamente, rasgando sua carne, fazendo-a arder
Seus olhos ainda estão selados na tentativa, inútil, de evitar que as lembranças sejam vistas. Mas elas insistem em se despedir. Não que julgue sua vida um martírio, mas Augusto prefere o silêncio das tardes vazias e a ausência de lembranças vagas.
Nos últimos anos, cada vez mais Augusto precisava de menos para viver. Pensava pouco, comia pouco, dormia pouco. Se fosse mais moço, diriam que ele estava apaixonado. Mas não, Augusto não morria por amor; morreria sem a presença dele.
Ela entra no cômodo, não é feia, garanto. Augusto não a vê, mas sente seu perfume adocicado. Ele teme abrir os olhos. Sentada do seu lado, ela apenas espera.
Minutos depois, o copo rolou alguns metros pelo carpê desbotado. Lá fora, um pássaro pousa no galho de uma árvore sem folhas, pesada e envelhecida – como o antigo corpo de Augusto – saudando a aurora de um novo amanhecer de inverno.
Augusto sozinho em si mesmo, enfim, caminhava.
5 comentários:
Bonito
bejos
Pobre Augusto. Podre Augusto. Pode Augusto. Phoda Augusto!!!!
Um beijo. Não para o Augusto, coitado... ha ha ha!
Faz muito tempo, gostava... hoje quase não me lembro, é mais como as lembranças vagas de Augusto, rs...
Gostei.
E do seu comment tbm.
Que Vani?
Esta Vani, sujeitinha egocêntrica, rs...
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