Quando o fim de tarde endurece o
sorriso, fazendo com que o coração marche em desânimo dentro do peito, eis o
indício da despedida rotineira, que desabrocha aos domingos. Apesar do
desalento, os passos vêm largos, com pressa para encontrar a melancolia. No
fim, essa “melancolia” diante da despedida irrefutável é o único afago; como
mostra Lars von Trier naquele filme em que iguala a Terra a uma noz esmagada.
Mas, afinal, não há nada mais
bucólico que o anoitecer de fim – e recomeço – de domingo; cuja despedida é trazida
por uma brisa leve que sossega e perturba. “Termina para quem parte, recomeça para
quem fica”, reflito. “Será?”. Contudo, em ambas as situações, não há fome, não
há viço, tampouco há sono. Não há nada. Enquanto o adeus não vem, só há a
incerteza comum diante de cada novo e revisitado passo.
Embora a consciência da despedida
anunciada seja vivaz, desconhecer a data escolhida pelo adeus comum a todos é o
que tortura os corações cambaleantes. “A morte, quando chegará? Para mim, para
os outros...”, divago. Ela não é como o
domingo, de visita previsível, mas pode vir com ele – e esse “pode” às vezes
vem com um sorriso malicioso, deixando algumas tragédias insuperáveis de presente; como a morte de duzentos e tantos
sonhos juvenis. Então, eis a segunda-feira, com a cara lavada, mostrando que a
vida segue. “Para aonde?”, pergunto e, às vezes, esqueço.
Há em cada um de nós uma faísca da
maledicência – bípede – em relação aos dias, aos anos. Também há a complacência
– também bípede – que insiste em admirar a aréola do próprio umbigo. Enquanto
eu, aqui, redescubro Virgínia, sonho com a Londres de 1910 e peço, enquanto
você dorme do seu jeito singelo – respirando pesado, como quem sonha pela
última vez. “Peço o quê? Para quem?”. Peço a Deus, para que me deixe mais um
pouco; nos fins de tarde, no início de cada sorriso.
Mas eis a vida, tão breve.