terça-feira, 25 de dezembro de 2007

↕ O Tempo Que Eu Preciso



Crises existenciais me acompanham como cócegas nos pés, desde menina. E ontem, no meio de mais uma dessas intermináveis crises, lembrei de um fato curioso. Há algum tempo, a irmã de uma guria, que na época era minha amiga e que hoje em dia nem converso mais, a não ser semana passada quando a mesma passou por mim na rua e me soltou um belo sorriso frouxo e amarelado, e um “oi” quase que vomitado. É incrível como as pessoas passam pela nossa vida, e não deixam nenhum vestígio. É raro as que permanecem. Então, voltando à reflexão do inicio, a irmã da guria do sorriso amarelo, estava beirando os quinze anos. Ela me disse a seguinte frase: “Ih, daqui a pouco chego aos dezoito. O tempo voa, que você nem vê!” Eu, com oito anos na ocasião, sonhava em usar sutiã, tinha nojo de beijo na boca, queria ser professora e não via a hora do tão almejado quinze. Pensar nos quinze anos, provocava um certo brilho no olhar. Quanta tolice!! É, quinze anos é algo esperado para qualquer guria. Sei lá o porquê, mas só sei que é assim. Bem no fim, o tal quinze chegou e passou rápido! Parece que foi ontem que a tal frase “ o tempo voa” foi dita. Isso assusta, né? As coisas passam rápido, a vida passa rápido. Você acorda sem ter certeza se vai dormir. Às vezes algo insignificante, segundos, pode mudar o rumo da sua vida! Só quem já teve perdas, acho, pára pra pensar o quanto o tempo é curto. Sim, nunca me recuperei da tal perda paterna, talvez seja por isso que eu possuo uma leve perturbação – muito leve, quase imperceptível, diga-se de passagem! A intenção desse texto não era escrever nada biográfico, era na realidade para refletir. Refletir o quanto o tempo é de fato muito curto, passa rápido e não espera ninguém. Mas espero, sinceramente, que daqui uns 10 anos, eu esteja escrevendo outro texto, talvez com os mesmos medos, aflições e cócegas existenciais, mas com alguns dos meus mais singelos sonhos já em mãos: uma mesa entulhada de papeis, em uma redação de uma revista semanal de grande circulação; uma bela casa no mato, com uma lareira e árvores, muitas árvores; um laboratório fotográfico; já ter ido para a África fazer um documentário; já ter escrito algum livro; já ter ganho algum prêmio Esso; e por fim, conseguir retribuir tudo o que a dona Lucia já fez por mim nessa curta vida. E beirando os dezoito, eu espero apenas uma única coisa da vida: que me dê o devido tempo, que eu preciso!

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