sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ao pecado de cada dia

Ah, se minhas pernas não fossem tão fracas, talvez esse martírio já tivesse partido sem que uma lacuna doesse e gritasse em todo anoitecer. Mas para que a sua partida seja consentida, o peso da consciência não poderia me fazer arquejar a cada manhã. Sim, preciso de você para andar, por isso – só por isso – o carrego com meus braços curtos de mulher miúda; em tamanho e em caráter.

A cada passo o cansaço aumenta, meu andar capenga e meu olhar despenca; lendo rimas autorais cada vez mais pobres e mirando os palmos de terra ímpares acima do meu ventre, lançados por mãos que nem saberão meu nome.

Sou ingrata, eu sei. Te desprezo e me condeno por precisar de você para prosseguir a estrada em lentidão complacente. Derramo o desprezo justo em você, que é tão atento, solicito, e que desperta do meu lado a cada nascer do sol – até quando esse não vem.

Oras, vai embora ingratidão petulante!

Encolhida em mim, inicio a minha rendição. Toda a minha sincera gratidão a você, que sem desleixo me ampara feito um par de bengalas desde que fui concebida: o pecado.

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