o coração tem moradia certa,
fica bem aqui no meio do peito.
Mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração".
Maiakóvski.
Tateia os rastros deixados na areia usando a alma como bengala. Fecha os olhos para tentar enxergar lá no escuro o que antecedeu cada passo dado. Sorri. Um pouco mais de açúcar no café dessa manhã talvez amenizasse os rastros tortos às suas costas. Vento no rosto, os braços abertos como quem espera um abraço. Abraça o vazio, olha para cima, para o Mar...
O mesmo vento que a toca, guia maciamente a coluna de pássaros que enfeitam o céu cor-de-rosa do amanhecer. Então, no vazio de si mesma, precisa conversar com o Mar, ouvir uma resposta dissipar duramente no seu peito que se vestiu de rocha. Balbucia: como posso me perder agora se é ele quem me tira do escuro? Sim, no início tombei com as suas palavras, mas agora é insustentável!
Pergunta se há alguém nesse instante vendo os mesmos pássaros, sentindo o mesmo adeus que lhe aperta o peito. A resposta não vem. Continua olhando o azul que antecede o caminho dos pássaros, até que o último foge do seu alcance.
É da sua vocação para a ironia que zomba da vida, dos feitos e efeitos tão banais. Gargalha! Ousará permitir-se, mesmo sem saber nadar. E pela primeira vez chegar sem querer partir. E pela primeira vez “ser toda coração”.
Um comentário:
desde esse dia, até hoje, essas palavras aparecem e ecoam por aqui. sempre as mesmas, sempre diferente, sempre com amor.
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