segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Nadando contra a corrente : PARTE I

Olá pessoal! Nas minhas próximas postagens falarei sobre a música independente. Nesta matéria, que será dividida em três partes, tive o auxílio de três pares de olhos atentos (e ouvidos aguçados), cujos donos possuem uma característica em comum: saciaram a sede por novidades quando descobriram a maneira independente de fazer música. Sendo assim, eu, Noah Mera, juntamente com os músicos Giancarlo Ruffato e Leonardo Fantinel, a partir de agora contaremos um pouco sobre essa forma de fazer música que está mudando a cena musical no Brasil – e, modestamente, na região Sudoeste do Paraná. Ok, a matéria pode ser retroativa para alguns, pois já foi postada no site patobranco.net, mas como diz minha sabia consciência: "Jozi, se for para pecar, que seja pelo excesso e não pela falta!".

Nadando contra a corrente
Músicos independentes mudam a maneira de fazer e ouvir música no Brasil


Eles compõem as letras e melodias. Antes de gravarem as músicas, compram dúzias de CDs virgens e o papel para imprimir o encarte desenhado por eles. As músicas são gravadas no estúdio que antes era o quarto de hóspedes e hoje com isolamento acústico feito com caixas de ovos, hospeda guitarras, baterias, cabos, amplificadores, microfones, etc. Para vender os CDs divulgam o trabalho em sites, blogs e no “boca a boca”, tudo isso unido à criatividade e disposição na hora dos shows. Quem são eles? Eles são os músicos independentes, músicos que não estão ligados a nenhuma gravadora, que passam longe do gosto massificado e que, através de seus acordes, estão mudando a cena musical do Brasil.

As produções independentes são anteriores ao punk, mas foi no gênero que essa forma de fazer música se intensificou – no desejo de romper a cultura dominante nos Estados Unidos, na década de 1970. Há exceções, mas o punk tradicional caracteriza-se pelo uso de poucos acordes, o que auxiliou na disseminação de uma das filosofias do gênero musical, a do “faça você mesmo” (do it yourself). E o que isso interferiu na música independente? Essa filosofia punk incentivou o surgimento da música independente, pois prevê que qualquer um pode se tornar um músico, compositor ou cantor e, porque não, produzir seu próprio álbum sem o dedo das gravadoras.

Em 2004, Giancarlo Ruffato gravou sozinho o seu primeiro disco. Desde então, já foram muitas as músicas compostas e os corações partidos. O músico que nasceu em Coronel Viviva e que há quatro anos mora em Curitiba, atualmente possui uma banda independente, e usa assiduamente das possibilidades ofertadas pelas internet para divulgar o seu trabalho. “Aprender a lidar com a internet é meio como tatear no escuro, uma hora você tem de acertar alguma coisa mesmo que isso signifique rachar sua cabeça. Blogs, boca a boca, vale tudo! Mas uma boa sacada ajuda a ganhar uns pontos e encurta o caminho entre você e o público”, revela.

No ritmo verde e amarelo

As grandes gravadoras atingiram o público no Brasil a partir dos anos 1950, quando a Bossa Nova trouxe a poesia musicada para a casa dos brasileiros – principalmente através da televisão. Em seguida, na década de 1960, os Festivais de Musica Popular Brasileira revelaram grandes compositores e intérpretes nacionais, dando espaço às chamadas “canções de protesto” – que refletiam o momento político e social que o país passava na época. A televisão ajudou consideravelmente para que a MPB se tornasse o mainstream (massificada, aderida pela maioria da população) da época. Foi um período digno dos ideais de Policarpo Quaresma, em que a música brasileira passou por um processo de valorização, o que Oswald de Andrade talvez chamasse de “antropofagismo musical”.

As gravadoras se firmaram devido aos avanços técnicos, bem como pela expansão e massificação oportunizados pelos meios de comunicação, que contribuíram para solidificação de um monopólio da produção e da “preferência”, musical no país. “Acho que esse pessoal que dita as tendências acabou criando tantos rótulos e, ao mesmo tempo padronizando a música em geral, que os ouvidos das pessoas já estão começando a saturar. É aquela velha história, se você passa muito tempo fazendo determinada coisa, ou você vicia, ou você enjoa”, frisa o musico Leonardo Fantinel, 20 anos, que há pouco mais de um ano atua na cena independente de Pato Branco e junto com a sua banda enfrenta os desafios de romper velhos paradigmas.

Assim como aconteceu com a Bossa Nova e com a MPB, para a difusão de qualquer tendência, seja artística ou comportamental, os meios de comunicação exercem significativa influencia, pois são a ponte que media os produtos ao público e dita o maistrein. “A maioria esmagadora das pessoas já se deixou levar pela indústria musical”, reforça Leonardo. Contudo, nem todo mundo gosta “do que todo mundo gosta”. “No final de 1999, senti a necessidade de novidades musicais fora da grande mídia, já que a música mainstream do final dessa época não me agradava, então descobri a música independente”. Relembra Noah Mera, sócio de uma livraria da cidade e, como revela Gian que é seu amigo “é um ótimo consultor musical”.

Noah divide o consumidor em duas nuances: a apreciador e o passivo. Para ele, “o apreciador de música, este é curioso, que procura música de qualidade e que o surpreenda. Este encontra na música indie uma maneira de satisfazer esta necessidade. A postura mais passiva, do consumidor ocasional que não importa-se com a qualidade da música, um mero pretexto ou complemento em ocasiões sociais – este é o alvo das grandes gravadoras”.

O gênero independente despontou no Brasil na década de 1980, um pouco antes de Noah descobri-lo, e teve o seguinte cenário: músicos clamavam pela renovação da música brasileira, insatisfeitos com a produção em série de canções apelativas, produzida para o pronto consumo. E o protesto se deu em forma de canções. Era o início de uma nova tendência na hora de fazer música, trazida até a costa por aqueles que decidiram nadar contra a corrente.

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