quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Simpatia boa é aquela que dá trabalho

Macabéa nunca havia escutado da boca alheia tantas conjeturas positivas, mas naquele dia em poucos minutos foi metralhada por um futuro bom! Tão bom que lhe deixou desorientada, vitimada por uma sensação digna do consumo demasiado de doses etílicas – e olha que ela nunca havia tido um porre. Ah, ela estava apaixonada pelo seu futuro e pelo esposo estrangeiro prometido pela cartomante falante, e de passado duvidoso, que trajada de sinceridade e pesar confessou: “acabei de ter a franqueza de dizer para aquela moça que saiu daqui que ela ia ser atropelada”. Grata pela sorte de não ter um destino doloroso como o da moça sem nome e de funeral marcado, a nordestina de Clarice Lispector, após ouvir a doce previsão, deu as costas ao passado e as mãos a morte: foi atropelada. Sim, foi realmente uma surpresa castigada pela agonia.


Mas eu não a condeno! Quem nunca sentiu uma pontinha de vontade em ter o futuro desvendado na palma da mão, numa quiromancia torta feita por uma dessas ciganas atarracadas de novela? Ou ouviu falar de uma amiga que fez uma mandinga e acabou conseguindo o amor da sua vida? E de pessoas que procuraram nas forças ocultas as respostas para os seus problemas? Ingredientes inusitados e receitas infalíveis não faltam. Vale tudo! Vela preta de sete dias, pena de galinha, cachaça, roupas íntimas e óleo de rícino. “Simpatia boa é aquela que dá trabalho”, ao menos é o que pensa uma pseudo-bruxa muito conhecida de Pato Branco. Vai saber...


O fascínio do homem por esse tipo de prática ocorre desde os primórdios e é decorrente dos mistérios e projeções de sociedades antigas, que criavam lendas ou mitos para explicar fenômenos que não compreendiam. Isso pode ser evidenciado em sociedades como a grega e a egípcia, que usavam mitos para explicar fenômenos da natureza.


Hoje a busca se dá por vários motivos, mas também é motivada pela insatisfação dosada que grita por respostas. E quando tais respostas não são encontradas no meio em que vivemos, o jeito é aderir às crenças vindas de outras culturas. Por exemplo, em algumas localidades, o fogo, a água, a terra e o vento são considerados elementos de veneração - culto que iniciou no momento em que o homem passou a andar em grupo, como pode ser visto no filme A Guerra do Fogo, de Jean-Jacques Annaud.


Mas ai vem a deturpação... Não generalizando, mas com a popularização de algumas superstições, os valores ganharam outros significados. Devido ao comportamento massificado, intensificado na sociedade após a industrialização, essas características, que até então eram somente místicas, passaram a adquirir novos valores e significados: muitas vezes mercantilizadas, foram condicionadas de acordo com padrões culturais que cada sociedade possui.


Enfim, “feitiçaria ou charlataria”, todos sabem que superstições e simpatias não possuem fundamento científico algum. Contudo, tanto a ciência quanto as superstições surgem de hipóteses. Há quem comprove com êxito uma teoria cientifica ou que jura que conseguiu arrumar um marido em apenas sete dias. Caso queira tentar, existe uma cartomante pato-branquense que garante que traz a pessoa amada em três dias. Seu endereço não foi apurado, mas ela reside na zona sul da cidade. Dica dada, mas não contem a Macabéa.

Um comentário:

Luiz Fernando Cardoso disse...

Gosto do teu estilo! E o texto jornalístico, como vai? Se estiver no mesmo nível, não terás dificuldade para encontrar oportunidades de trabalho. Esperarei por teu currículo ;o) Bjo.